sexta-feira, 20 de novembro de 2015

OS IDOS DE NOVEMBRO DE 1975


20 de Novembro de 1975

Apenas hoje, Pinheiro de Azevedo revelou a Costa Gomes a suspensão do VI Governo Provisório.


Reunidos no restaurante Chocalho, em Santos-o-Velho, militares afectos ao Grupo dos Nove, Mário Soares, chegam à conclusão que a auto-suspensão do VI Governo Provisório talvez seja um caminho para resolver a situação do País.

Dão conta da decisão a Pinheiro de Azevedo, que concorda com ela.

Às 15 e 30 começa no Palácio de Belém, sob a presidência de Costa Gomes, uma reunião do Conselho da Revolução para decidir da viabilidade, ou não, do VI Governo Provisório continuara em funções.


Milhares de populares começam a concentra-se frente ao palácio protestando contra a atitude tomada pelo governo de se auto suspender. Os manifestantes exigem a demissão imediata do governo e a instauração do poder popular.




Os manifestantes exibem cartazes ode se lê: O SEXTO ESTÁ ROTO. BASTA!

Já perto da meia-noite o Presidente Costa Gomes fala aos manifestantes:


As posições estão extremadas.

Pinheiro de Azevedo, depois da audiência com Costa Gomes e, perante os jornalistas e as câmaras de televisão, disserta:

Estou farto de brincadeiras. Fui sequestrado duas vezes, já chega! Não gosto de ser sequestrado, é uma coisa que me chateia!... Está convocada uma manifestação de trabalhadores para as quinze horas aqui em frente de Belém… Eu julgo que é de apoio ao senhor Presidente da República contra o VI Governo, que é o costume deles… Eu não tenho nada que ver com o sr. General Otelo! Não me interessa coisa nenhuma. O senhor general Otelo não me resolve coisa nenhuma! A mim não me interessa nada.
Cerca das 2 horas do dia 20 de Novembro o Conselho de Ministros emite um comunicado onde dá a conhecer aos portuguesas a suspensão do exercício da sua actividade governativa até que S. Exª o Presidente da República e Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas lhe possa garantir as condições indispensáveis ao exercício das suas funções e autoridade, em ordem a assegurar o cumprimento do seu programa de Governo em todo o território nacional.

Sobre a decisão, Sá Carneiro afirma: a posição assumida pelo Governo é uma clara intimidação aos mais altos responsáveis militares.

Editorial de A Luta, jornal afecto ao Partido Socialista, presumivelmente, escrito pelo seu director, Raul Rego:


Comentário do jornalista Manuel de Azevedo, publicado na última página do Diário de Lisboa:


No livro Portugal Depois de Abril pode ler-se este fait-divers:

Quando no dia seguinte, em reuniões sucessivas entre os dirigentes militares, Melo Antunes propõe a Otelo que assuma o poder, já que não apoia o governo, isto era uma provocação, a consumação do processo aberto. Já se sabia que Otelo não queria o poder para nada, respondendo a sorrir:

- Tá bem tomo o poder…

- E depois? – pergunta Melo Antunes.

- Depois… faço-te primeiro-ministro – foi a resposta de Otelo, desfazendo com humor a grande jogada.

De facto, era a grande jogada para fazer saltar a esquerda.

Fontes:
- Acervo pessoal;
Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.
- A Resistência de José Gomes Mota
- Portugal Depois de Abril de Avelino Rodrigues, Cesário Borga 

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