terça-feira, 24 de novembro de 2015

OS IDOS DE NOVEMBRO 1975


24 de Novembro de 1975

É tal o emaranhado de acontecimentos, decisões e contra decisões, afirmações e desmentidos das mesmas, uma avalanche de opiniões, palavras de ordem, que se torna, particularmente, difícil, em pouco espaço, dar a conhecer tudo o que vai acontecendo nos dias que correm.

Uma coisa é certa: mais do que nunca, cheira a golpe, venha ele de onde vier.

Ontem, na Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa, para o mesmo local de há quatro meses antes, o Partido Socialista organizou um comício com a presença de milhares de pessoas.

O Presidente Costa Gomes foi fortemente criticado, enquanto é manifestado inequívoco apoio a Pires Veloso e Jaime Neves, ao VI Governo Provisório

No seu discurso, Mário Soares, proferiu as palavras que o Diário Popular colocou em título:


 À volta de armas e canetas o jornalista do vespertino, Carlos Benigno da Cruz, tece o seguinte comentário:


Numa entrevista ao Nouvel Observateur, Melo Antunes assume que o país caminha para uma guerra civil que, a não ser evitada, nos conduzirá a um outro fascismo
O Jornal Novo transcreve largos extractos da entrevista e, para título, arrastou estas palavras:


Os extractos têm estas palavras de abertura:

Por entre a balbúrdia de opiniões, e as tomadas de posição desconexas e contraditórias a que temos vindo a assistir nos últimos tempos, ergue-se uma voz de bom-senso – a do Major Melo Antunes.
Numa entrevista que hoje sairá a público no “Nouvel Obaervateur”, o ministro dos Negócios Estrangeiros faz uma análise da actual situação política portuguesa e aponta caminhos – que, a serem seguidos, talvez ainda possam salvar este país da derrocada.

Ao jornal coimbrão “Domingo”, o brigadeiro Franco Charais dá uma entrevista em que a bota bate com a perdigota,  e levanta um ponta do nebuloso véu que cerca o país:

Estou convencido que a muito curto prazo vamos ter uma clarificação do processo político português. Clarificação que nem de longe passará por armas nem por confrontações físicas, mas apenas por procedimentos políticos.

O jornalista, no findar da entrevista, pergunta:

- Está preocupado?

- Não. Estou mais optimista.

Entretanto, Jaime Neves passeia-se, por Lisboa, em Chaimite.

Neste mesmo dia o Conselho da Revolução reúne-se para, em definitivo, resolver a nomeação de Vasco Lourenço como comandante da Região Militar de Lisboa.

No seu habitual Apontamento, na 1ª página do Diário de Notícias, José Saramago lembra: Hoje há Conselho:



Num plenário que reúne milhares de agricultores em Rio Maior, é aprovado o saneamento do secretário de estado da Reestruturação Agrária (António Bica do PCP) e de todos os técnicos do IRA de Santarém. Enquanto uma comissão eleita no plenário se desloca ao Conselho da Revolução os agricultores erguem barricadas que bloqueiam completamente os acessos a Lisboa.

Aproxima-se a madrugada em que Novembro entrará portas dentro dos quarteis de Abril.

Fontes:
- Acervo pessoal;
Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.
- A Resistência de José Gomes Mota
- Portugal Depois de Abril de Avelino Rodrigues, Cesário Borga, Mário Cardoso.

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