segunda-feira, 14 de setembro de 2020

CONVERSANDO


Numa das crónicas que, semanalmente, publica no Expresso, José Tolentino Mendonça começa assim:

«Em Portugal, que eu saiba, o melhor lugar para ouvir as cigarras é a poesia de Eugénio de Andrade. Ao menos para mim representa o sítio onde verdadeiramente as escutei pela primeira vez.»

O verão, por exemplo como se conhece?

Um poema do Eugénio:

Conhecias o verão pelo cheiro,
o silêncio antiquíssimo
do muro, o furor das cigarras,
inventavas a luz acidulada
a prumo, a sombra breve
onde o rapazito adormecera,
o brilho das espáduas.
E o que te cega, o sol da pele.

Mais Eugénio:

Vê como o verão
subitamente
se faz água no teu peito,

e a noite se faz barco,

e minha mão marinheiro.

Ou assim:

No verão morre-se
tão devagar à sombra dos ulmeiros!

Para dizer ainda que, como cantam os brasileiros Milton Nascimento e Simone:


a cigarra anuncia o verão.

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