segunda-feira, 28 de setembro de 2020

TIRADAS

Esta nova Tirada é sobre Woddy Allen e a condução.

Também já vimos coisas deste estilo nos filmes dele...

Não vos quero massacrar com as "tiradas" de W.A. mas, enquanto estas já estão preparadas, tenho outros textos no forno que ainda vão precisar de um pouco mais de paciência para lhe pegar...

"... por essa altura tinha carro. Adquirira um descapotável Plymouth de 1951 por seiscentos dólares. Tinha alimentado fantasias gloriosas de como um carro iria mudar a minha vida. Libertar-me-ia; poderia conduzir sobre a ponte de Manhattan sempre que quisesse, escapar para Long Beach para visitar longos poisos nostálgicos, ir até Connecticut numa manhã de primavera para comungar com a natureza. Não faço ideia em que raio estaria eu a pensar; odiava a natureza e, mais do que a natureza, odiava ser dono de um carro."

(pág. 97)

"...um carro nas minhas mãos era como dar uma ICBM a uma criança de três anos. Conduzia demasiado depressa. Guinava e dobrava esquinas onde estas não existiam. Não conseguia estacionar de marcha atrás. Fazia peões descontrolados. Não tinha paciência para o trânsito e queria deixar o Plymouth e abandoná-lo para sempre no meio de uma rua engarrafada. Conduzia infidavelmente , incapaz de encontrar um sítio para estacionar e, depois, não era capaz de enfiar lá o carro. Parti muitos faróis traseiros e dianteiros de veículos estacionados, a tentar enfiar-me entre eles, depois arrancava e acelerava para longe, em pânico, abandonando a cena do crime. Estava continuamente a perder-me. Não tinha qualquer sentido de orientação. "

(pág. 99)

"Sim, o carro era, como muitas mães de raparigas temiam, um quarto de hotel sobre rodas; mas sempre que começava a trocar beijos, aparecia a luz de uma lanterna e um qualquer polícia mandava-me seguir viagem"

(pág 99)

"No entanto, conduzia porque toda a gente que conhecia parecia ser capaz de gerir um carro, assim, porque não haveria eu de conseguir? Mas nunca consegui e haveria de desistir pouco depois. Voltei a tentar conduzir mais uma ou duas vezes, anos mais tarde, com iguais resultados e, por fim, desisti para sempre.

Mal vendi o Plymouth foi como se me tivessem tirado um tumor."

(pág 99 e 100) 

Woody Allen em A Propósito de Nada

Colaboração de Luís Miguel Mira

Legenda: Fotograma do filme Annie Hall

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