O Que a Chama Iluminou
Afonso Cruz
Capa: Maria João Lima
Companhia das Letras Lisboa, Dezembro 2024
Começa aqui uma viagem sobre o fim, nas múltiplas formas de que ele se reveste e como se impõe. Tudo acaba a todo o instante, ou, como escreveu Wislawa Szymborska, «quando pronuncio a palavra Futuro, / a primeira sílaba já pertence ao passado»; do mesmo modo que existe uma natalidade presente em todas as coisas, um recomeço constante, assim o surgimento de algo novo implica perda, deixar de ser o que era. E, no meio dessa perda, da transformação em nada face ao tudo, para usar a formulação de Pascal, há sempre um nascimento. Essa simultaneidade é inerente a todos os fenómenos. O tempo é luto, pois empurra constantemente com uma mão — para um passado inacessível — tudo o que foi criado, mas é também celebração, na medida em que cria com a outra. Trata-se de dois movimentos, mas apenas na aparência: analisados atentamente, reduzem-se a um fenómeno. Por isso, encontramos sempre uma forma de contradição quando pensamos nesta coreografia de dois rostos: por vezes, a perda imensurável, outras, a surpresa da criação e metamorfose; por vezes, estamos perante o abismo da extinção, outras, a contemplar um campo de girassóis ou a ouvir a voz de Chavela Vargas cantar os dois beijos que leva na alma: «el último de mi madre y el primero que te di». Morte e vida, o último e o primeiro. Se neste livro pretendo falar do fim, dele será sempre indissociável o início. Há ainda uma terceira face, que tantas vezes passa despercebida, porque emerge em diferentes manifestações: a transformação do mundo em narrativa, em representação, em memória, em arte, em algo que, não sendo a própria coisa, é a sua dimensão depurada ou destilada..jpg)
1 comentário:
"O VÍCIO DOS LIVROS" I e II - dois livros, sobre livros, muito interessantes, do excelente escritor Afonso Cruz.
Enviar um comentário