Primeiro de Agosto, primeiro de Inverno, dizia a minha
avó, diziam todos os velhos.
Num 1 de Agosto, anos 60, último barco de Belém para a
Trafaria, o mestre da embarcação para seu tripulante:
«Já cheira a Inverno!»
Ninguém foge ao seu destino e recorda-se um poema de
António Gedeão:
- Minha mãe, haverá
mundo
para além da Trafaria?
- Não sei, meu filho.
Não sei.
Tudo aquilo que sabia
já no meu sangue te
dei.
- Que serras são estas,
mãe,
que não nos deixam ver
nada?
- São rugas que a Terra
tem.
Não maces a tua mãe.
Deixa-me estar
descansada.
- Ó mãe, que rio é
aquele?
Onde nasce e onde
morre?
- Ó filho, é Deus que o
impele.
Entretém-te a olhar
para ele.
É um rio. Tem água.
Corre.
- Quando eu for
crescido, mãe,
quero saber e entender.
- Ó filho, o supremo
bem
é cada qual, com o que
tem,
resignar-se e
agradecer.
Deus faz tudo pelo
melhor.
Não se engana nem se
esquece.
De todo o mal, o maior,
seria sempre pior
se Deus assim o
quisesse.
Ninguém foge ao seu
destino.
Está tudo determinado.
Não penses com
desatino.
Dorme, dorme, meu
menino.
um soninho descansado.

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