sábado, 9 de agosto de 2025

OS CLÁSSICOS DO MEU PAI


Este livro de Ignacio Peiyró sobre o cantante Julio Iglesias, fez-me lembrar que o meu pai gostava de uma canção do Julito: Un Canto a Galicia.

Foi ele que comprou o single que ainda se encontra nas  prateleiras da Biblioteca da Casa.

Uma outra maneira de entrar em Os Clássicos do Meu Pai.

Como é que um marxista-leninista, nascido em Lisboa, se demora numa canção destas?

Podia-se perguntar tudo ao meu pai que ele respondia.

Mas sabíamos que havia coisas para as quais não dava qualquer sinal explicativo.

Algo a que um dia chamou prazeres secretos.

Do mesmo, são parcas as informações que possuímos sobre o lado familiar do lado paterno.

Quando a conversa chegava a um determinado ponto, ouvia-se o ensurdecedor silêncio.

Pela parte da mãe, de quem muito gostava, o avô era galego e, por motivos desconhecidos, desaguou em Cernache do Bonjardim. Talvez seja desse avô galego que o meu pai agarrou o gosto pela canção, talvez o lembrar morriñas, saudades, ribeiras, algo que só ele poderia contar, venha esse gosto por Un Canto a Galicia.

O livro, já aqui referido, escrito pelo jornalista, tradutor, escritor e director do Instituto Cervantes de Roma (que também já dirigiu o Cervantes em Londres) Ignacio Peyró, esta biografia do popular cantor espanhol Julio Iglesias é o “retrato social, político e antropológico da Espanha moderna: do franquismo à democracia, do glamour à imprensa cor-de-rosa, da pobreza à internacionalização”, diz a editora sobre esta obra que “junta alta cultura com música ligeira.”

No prólogo, o autor refere: “Em minha casa não se ouvia Julio Iglesias, mas — para um madrileno de 1980 —, a sua presença aqui e ali foi inevitável: já na infância, mais do que anacrónico, parecia um cavalheiro algo flutuante no tempo, aquele espanhol cujo bronzeado rivalizava com o de Nat King Cole. Depois (...) criou um espaço só seu.”

Eu quero che tanto, e ainda non o sabes.

eu quero che tanto, terra do meu pai.

Quero as tuas ribeiras que me fan lembrare,

os teus ollos tristes que me fan chorare.

Un canto a Galicia, hey, terra do meu pai.

Un canto a Galicia, hey, miña terra nai.

Teño morriña, hey, teño saudade,

porque estou lonxe de eses teus lares.

Teño morriña, teño saudade,

porque estou lonxe de eses teus lares.

De eses teus lares, de esos teus lares,

Teño morriña! Teño saudade!

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