Caminho pela cidade e sinto na pulseira
o indelével trilho seccionado no ouro
pelo agreste grão da parede do quarto
enquanto implacável
maceravas a pele do meu corpo
recuando o avanço impunemente.
Nos dedos os anéis,
o cobre não se mistura ao ferro,
mas antes faz engaste
na espessura do dito,
os anéis, dizia,
formam em cada membro um halo protector.
Há povos que conservam
poder sobre os metais
e fecham cada dedo
à invasão do individualismo.
Há um amigo que está em Nova Iorque
e não manda recados.
Gente se junta e passa ao lado,
acre corrente segura pela âncora
algema na areia.
Alguém cujo riso era aberto demais
Cravou no coração, tranquilo, uma
verruma
O líquido injectado agiu incontinente.
A tua sede agarra-me no braço
e torce-me por dentro.
Igual a um toco de figueira
estiolo na berma do asfalto,
um prego me sustenta
naqueles brinquedos circulares
que crianças agitam
e nunca se descolam da parede
o rubro do metal
a zona vulnerável
um acaso te fez a descoberta.
Tenho em cada meninge um olho de
serpente
que te segue as pegadas no encalce da
morte.
Vacilante rodeias precipícios
que não se vão fechar
por eu desaparecer.
Fátima Maldonado em Os Cem Melhores Poemas Portugueses dos Últimos Cem Anos
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