quarta-feira, 27 de agosto de 2025

OLHAR AS CAPAS

Marés de Mar

Luísa Dacosta
Capa e Ilustração: Luís Filipe Cunha

Parque Expo 98, Lisboa Maio de 1997

De que cor é este mar, nunca igual e sempre diferente, de ritmos vários, cadenciado como o bater certo dos remos, inquieto como a ansiedade dos que trazem os afectos sobre as ondas, fervente como um cachão raivosos, quieto, quieto, marginado pela linha, rubra, do crepúsculo? De que cor é este mar, onde se miram nuvens e gaivotas, onde se esfriam e se apagam as estrelas da madrugada.

Azul. Azul, como o manto das imagens milagrosas. Azul, como o olhar perdido dos náufragos. Azul da cor da noite. Verde fel. Verde da cor dos limos, Verde da cor dos barcos. Loiro cor de areia, das tranças e do cordame, Ferrugem, cor das âncoras e das redes. Castanho cor do sargaço. Palhetado de sol e luz. Irisado, como as escamas dos peixes. Rosa, com certas algas e corais, como a garridice das blusas em dias festivos. Rosa, como as flores de papel do altar do padroeiro. Vermelho da cor das guelras. Sanguíneo. Violáceo, cor de tinta. Roxo, como uma quaresma líquida. Cinzento. Brumosos de névoa e mistério. Metálico, como uma roda de navalhas. Branco de sal e espuma. Branco da cor das velas. Negro, como as faixas das mulheres e o luto das viúvas. Sem cor, como a angústia das que não Têm sequer um cadáver para velar.

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