Vida Perigosa
Urbano Tavares
Rodrigues
Livraria Bertrand, Lisboa
1955
Tinham a cidade aos pés e não a viam nem queriam vê-la, escondidos
naquele jardim suspenso, onde os repuxos caíam, dolorosos, nas vibrantes
conchas de mármore. Cada minuto que passava era um minuto perdido, um instante
mais que a vida lhes roubava. O céu estava tão perto, através do
caramanchão!... Quase desaparecia – coisa maravilhosa! – a noção de identidade.
Quase, mas não por completo…
Francisco lamentou, em voz baixa:
- Vou por vezes a esquecer-me de quem sou, de onde me encontro, prestes
a dispersar-me pela atmosfera, pelas coisas da natureza… e logo a vida torna a aparecer-me
com a rigidez duma ficha.
- Faça como eu, não pense nisso – aconselhou ela.

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