domingo, 14 de março de 2010
OS CLÁSSICOS DO MEU PAI
O meu pai gostava dos trompetistas Harry James (“O Voo do Moscardo”) e Eddie Calvert (“Oh Mein Papa!” e “Zambezi”), da “Malaguena” cantada pelo Luis Alberto del Paraná e o seu trio “Los Paraguayos, da “Picolissima Serenata” pelo Renato Carosone, da “Granada” cantada pelo Mário Lanza, também havia uma versão do Luiz Piçarra, do "Piove" cantada pelo Domenico Modugno, "La Mamma" do Charles Aznavour.Lembro-me quando chegou a casa com o “Rock Around The Clock” do Bill Haley e os seus “Cometas”. As vezes que, nesse dia, o disco tocou.
Tudo discos de 78 rotações por minuto que, ao longo dos anos, se foram partindo.
Mas gostava, particularmente, do “Que Sera Será”, cantado pela Doris Day.
Para quem não saiba, esta era a canção que em “O Homem Que Sabia Demais” do Hitchcock, Doris Day, no papel de Jo Mckenna, costumava cantar ao filho, e que será a chave que há-de permitir que o filho seja libertado das mãos dos raptores.
Por sinal, uma canção que, também impressionou Ezra Pound, sabe-se lá bem porquê.
“Que Sera, Sera,
Whatever will be, will be
The future's not ours, to see
Que Sera, Sera will be, will be.”
Ray Evans, o compositor de “Que Sera, Sera” que, com 92 anos, morreu em Fevereiro de 2007, dizia aos amigos que uma das coisas que o encantava era o facto de as suas melodias terem sobrevivido ao longo de tantas décadas.
Já agora, também da autoria de Ray Evns, é o Tema Musical da celebérrima série “Bonanza”.
O meu pai, em determinada altura, comprou uns LPs da "Philips” da série “Popular Favourites”, que reuniam êxitos da música norte-americana. Por lá andavam, entre outros, o Louis Armstrong a interpretar “Mack The Knife”, Rosemary Clooney a cantar “This Old House”, o Frankie Laine a cantar “Jezebel”, o Johnnie Ray a cantar “Hernand’s Hideway”.O descaminho que alguns destes discos levaram , é um mistério.
Também gostava de canções napolitanas e tinha um LP, que não mais lhe pus os olhos.
Lembro-me perfeitamente da capa, em tons de azul, com o mítico Vesúvio, esse monstro adormecido, em fundo.
“Ver Nápoles e depois morrer”.
Terá algum dia dito?
Mas, acima de tudo, do que o meu pai gostava era de música clássica.
Ouvir música clássica, a televisão ainda não tinha entrado porta dentro, era um ritual da casa. Volta e meia ouvia-se o no corredor: “Vamos embora que vou pôr a 9ª Sinfionia”.
Não era um convite, era quase uma ordem, e eu e o meu avô avançávamos para o escritório e ali ficávamos, em profundo silêncio, a ouvir Beethoven.
É uma imagem gratificante que guardo: os três sentados, rodeados de livros, a ouvir música clássica.
Os discos de música clássica foram os únicos que não levaram descaminho.
Aos poucos irão aparecendo por aqui.
Começo com a 9ª Sinfonia de Anton Dvorak, a “Novo Mundo”.
Não foi o primeiro disco de música clássica que o meu pai comprou. Simplesmente, anos mais tarde, por motivos que contarei em “Memórias”, esta sinfonia, no correr dos anos, ficou a marcar alguns dos meus dias.
Para sempre.
A gravação é da Deutsche Gramophon, e a Orquestra Filarmónica de Berlin é dirigida por Ferenc Fricsay.Edição alemã, Agosto de 1956.
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1 comentário:
Certamente terão reparado que o texto fala da 9ª Sinfonia de Anton Dvorak e na capa do disco lê-se 5ª Sinfonia.
Trata-se de um erro da Deutsche Grammophon. Ninguém é perfeito e até a uma editora tão prestigiada como esta, erros destes podem acontecer.
A 5ª Sinfonia de Dvorak é a "Opus 76" e a 9ª Sinfonia é a "Opus 95".
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