sexta-feira, 20 de maio de 2011

TRUCULÊNCIAS


A atribuição do “Prémio Camões”, ao escritor e jornalista Manuel António Pina, teve tanto de surpreendente como de justa.

Aos costumes, Manuel António Pina, apenas disse: maior responsabilidade.

Por causa deste prémio um homem, pelo menos, acorda envolvido num manto de azia.
Falo do bastonário da Ordem dos Advogados, António Marinho e Pinto.
  
Entre a classe, tenho familiares e amigos, mas estou um pouco como a Julia Roberts na pele de Erin Brockovich: “Vocês, advogados, só complicam situações que não são complicadas. Sabe porque é que as pessoas acham os advogados uns sacanas? Porque o são mesmo!”

É um espantoso enigma o saber que uma classe eleja, para a representar, um homem como Marinho e Pinto. Não apenas por uma vez, já vai em duas, talvez outras se sigam. Um pouco como o povo italiano a votar nessa coisa Berlusconi, como lhe chamou José Saramago, para primeiro-ministro.

Sedento das luzes dos holofotes, de um pé de microfone, Marinho e Pinto, estrondosamente, determinou que os portugueses não deveriam votar no dia 5 de Junho.

Na sua coluna no “Jornal de Notícias” permitiu-se discordar e acusou o Bastonário de ter a paranóia do exibicionismo.

No seu estilo, Marinho e Pinto, também no “Jornal de Notícias” chamou ao cronista um refinado cretino, cretino especial, do tipo intelectual de esquerda, a postura de um medíocre bem pensante, intelectualmente desonesto.”

E terminava:

“Senhor Manuel António Pina, não se atormente mais. O seu mal cura-se com uma dose apropriada de iodo. Trate-se! Vá para uma boa praia e… ioda-se!”

Imagino a cara de Marinho e Pinto, ao jantar, ouvir no tele-jornal do dia, a notícia de que, no longínquo Rio de Janeiro, um grupo de personalidades, atribuiu o “Prémio Camões” a este “homem que chegou a velho sem ter sido adulto e a quem os mais próximos, por rotina, caridade ou estupidez, provavelmente ainda tratam como uma grande esperança.”

Imagino, pelas manhãs, a angústia de Marinho e Pinto na corrida para a casa de banho em busca do “Guronsan”

A resposta de António Manuel Pina, ao destempero de Marinho e Pinto, é uma pérola de inteligência e humor, que não resisto a transcrever:

“O bastonário Pinto saltou ontem as barreiras (todas, incluindo as do JN, onde, que me lembre, foi a primeira vez que, nos 40 anos que levo de casa, se deu guarida à castiça arte do insulto) e, de cabeça baixa, desembestou desenfreadamente contra o que aqui foi dito sobre a sua patética ânsia de protagonismo com argumentos como "cretino", "refinado cretino", "medíocre", "cretino" outra vez, outra , mais outra, ainda outra, "megalómano", de novo "cretino" (o vocabulário desta espécie de Capitão Haddock, ou Ad Hoc, é escasso), "desonesto", "ocioso", "parolo", "mesquinho", e depois, na secção zoológica, "canino", "mastim" e "caniche" e, na secção psicanalítica," desesperado existencial" (o que quer que isso signifique), "frustrado" e "cruelmente dilacerado". A fina e bastonária argumentação termina a mandar que o cronista se "ioda". Escapou a honra da mãe do cronista, o que, vindo a coisa de quem vem, já foi assinalável proeza...
Tenho um princípio de sobrevivência na estrada que consiste em dar sempre prioridade a um camião destravado (ainda por cima, este vê-se bem que faltou a alguma inspecção). Meto, pois, travões e ele que passe.
É certo que, na sua fúria em contramão, o camionista atropelou repetidamente, provocando-lhe traumatismos vários, a pobre gramática da língua portuguesa. Mas gramática e ele que se entendam. Eu não me queixo. Podia ser pior, sei lá se o homem tem tomado a medicação.”

1 comentário:

sammypaquete disse...

Dizem-me que os estatutos da Ordem dos Advogados não permitem mais do que dois mandatos.
Assim, António Marinho e Pinto, só será bastonário da Ordem até 2014.