domingo, 29 de maio de 2011

SARAMAGUEANDO



Pelos Cadernos, ficamos a saber que, no dia 1 de Março de 1994, Saramago recebeu, em Lanzarote, a visita de Mário Soares.

Ter-lhe á dito, como sempre fez questão de dizer, que era um europeu céptico que aprendeu todo o seu cepticismo com uma professora chamada Europa.

“Tive a melancólica satisfação de ouvir dizer a Mario Soares que partilha hoje de algumas das minhas reservas, antigas e recentes sobre a União Europeia: “Que será de Portugal quando acabarem os subsídios?”, foi sua a pergunta, não minha). Aproveitei a ocasião e permiti-me substituir a pergunta por outras mais inquietantes: “Para que serve então um país que depende de tudo e de todos? Como pode um povo viver sem uma ideia de futuro que lhe seja própria? Quem manda realmente em Portugal?” Não tive respostas mas também não contava com elas.”

Dos Cadernos, um salto até à Longa Viagem:

“Entraram aqui milhões de contos por dia em fundos da União Europeia e perguntamo-nos onde está esse dinheiro, o que se fez com ele? Gostaria que o Governo publicasse um anúncio de página inteira nos jornais para explicar o q ue Portugal recebeu da Comunidade e onde é que essas importâncias foram aplicadas. Era uma informação para o povo português ficar a saber que a entrada na Comunidade não tinha sido um capricho político e que havia razões – que até se comprovavam – justificadas pelo apoio económico materializado em milhões todos os dias no país. Não se fez nunca isso, nem foi dada uma explicação porque seria muito difícil dá-la. E, claro, que eu nem queria chegar ao pormenor dos tostões…”

A agência EFE de Madrid, no dia de natal do ano de 2006, publicou uma entrevista com Saramago:

 “A Europa não está definida, não sabe o que é e, ao fim e ao cabo, um projecto social que fracassou. Cada país está a puxar para o seu lado.”

De uma entrevista ao “Canarias 7” de Las Palmas em 20 de Fevereiro de 1994:

“A Comunidade Económica Europeia é um conselho de administração de um espaço económico, sobretudo económico. E, como acontece sempre nos conselhos de administração, quem manda é quem tem mais acções. Em poucos anos, a Europa será administrada pela Alemanha e nós seremos só uma espécie de satélite do Bundesbank.”

Se ainda estivesse entre nós, e ao ver o que está a acontecer ao País, teria mais uma das suas “melancólicas satisfações”.

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