terça-feira, 24 de maio de 2011

SARAMAGUEANDO


São de eleições os tempos que atravessamos.

Dizem-nos: em cada eleição joga-se o nosso futuro.

Serão os indecisos que irão decidir o vencedor.

Podem os indecisos decidir alguma coisa?

O voto dos indecisos já nos trouxe até aqui

Voto consciente?

Não: apenas voto indeciso e as indecisões nunca resolveram problemas, casos houve em que os agravaram mais.

No seu “Ensaio Sobre a Lucidez” José Saramago aborda o voto em branco.

"O voto em branco é uma arma democrática que possuímos para impedir os políticos de continuarem a brincar connosco

“Estou contra o sistema que nos governa e consegui encontrar o instrumento por excelência de contestação: o voto em branco.”

O voto em branco é uma questão que acompanha Saramago, pelo menos, desde Abril de 1975, altura em que, dando concordância ao apelo do MFA para que assim votassem os que não estavam esclarecidos sobre o sentido do seu voto, escreveu um “Apontamento”  no “Diário de Notícias”:

“É preciso que fique esclarecido que o voto em branco ou inutilizado com um traço também é voto. É voto que deve merecer tanto respeito como aquele que se exprime firmemente por uma opção partidária. O voto em branco é o voto de quem não sabe e o afirma. O voto em branco é uma forma de protestar contra quarenta e oito anos de fascismo que, eles sim, são os verdadeiros responsáveis por esta discussão tão pouco clara, em que se procura pescar votos como em águas turvas se pescam peixes cegos.”

Em “Uma Longa Viagem com Saramago” , João Céu e Silva, pergunta-lhe se  a tese do voto em branco, expressa no livro tinha sido uma provocação.

Saramago confirma e explica:

“Porque uma democracia que não se decide, que não sabe que uso fazer dos votos expressos – ou que às vezes sabe muito bem o que é que há-de fazer dos votos expressos, exactamente o contrário daquilo que foi prometido aos eleitores, chega a um momento em que faz uma pessoa perder a paciência. Há quantos anos é que andamos a meter papéis dentro de urnas? Uma quantidade deles e continuamos a fazê-lo porque a democracia é muito boa e, portanto, é preciso levá-la a toda a parte para que mais pessoas metam papeis dentro de uma urna (…) Isto é também uma comédia, só que uma comédia que tem consequências muito graves e uma delas é que da democracia à demagogia vai um passo –que está constantemente a ser dado, pois os políticos não respeitam a sua própria palavra.

Legenda: Caricatura de António publicada no “Expresso”, Março 2004

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