sexta-feira, 10 de agosto de 2012

À CONVERSA...


Perguntaram-lhe:

A sua saída do Partido?

Respondeu:

No começo de 56 houve o XX congresso do PC soviético. E, em geral, as pessoas pensam que eu deixei de militar profissionalmente no partido devido a essa crise. Não. Eu deixei de ser funcionário do Partido Comunista – e a única diferença entre mim e os funcionários era que eu recebia nem um centavo – porque decidi continuar o meu trabalho literário. Mas pouco depois veio a crise, e muita gente ainda hoje imagina outra coisa, e também nunca tive qualquer interesse em tornar públicas as verdadeiras razões. Muitos pensam que houve uma ruptura quando não houve. O que houve é que eu, realmente, voltei a ser exclusivamente escritor. Ao mesmo tempo, é claro, voltei a pensar pela minha cabeça, porque, quando se está dentro de um corpo partidário, sobretudo extremamente disciplinado como o Partido Comunista, a gente pensa muitas vezes pela cabeça dos outros e não pela sua própria. Por isso, daí em diante, eu passei também a pensar pela minha cabeça, sem que isso me tenha afastado de nenhuma das posições fundamentais do meu pensamento


Jorge Amado em Conversas de Mário Ventura, Publicações Dom Quixote, Lisboa 1986.


Legenda: Jorge Amado com José Saramago.
Fotografia tirada do site da Fundação José Saramago.

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