sexta-feira, 10 de agosto de 2012

AMADO CAPITÃO DA AREIA


 Jorge Amado nasceu há cem anos.

Se bem que livros de Jorge Amado (edições brasileiras) fizessem parte da biblioteca do meu pai, sou um leitor tardio das suas obras.

Tudo começou, em 1962, quando o meu pai apareceu com um livrinho de 32 páginas, com um nome sugestivo: De Como o Mulato Porciúncula Descarregou Seu Defunto.

A hstória está envolvida numa graça contagiante. Seu autor: Jorge Amado.

Li-o num sopro e ficou a ideia de que teria de ir à descoberta do autor.

Não aconteceu e os motivos devem estar relacionados com a dispersão de livros, de filmes, outras coisas, com que preenchi a adolescência.

Só em Fevereiro de 1966, mercê de uma pequeno texto publicado pelo jornal do Benfica, me dei conta que era mais que tempo, já tardio tempo, de conhecer Jorge Amado.

O estranho de tudo isto é como, em plena ditadura salazarista, um jornal de clube de futebol, publica um depoimento como este que podem ler aí em baixo.


O Benfica sempre foi um clube popular, nas assembleias gerais, praticava-se a democracia e ninguém, nem a PIDE, ousou contrariar o sentido do povo benfiquista.

Claro que, por lá, também havia uns ranhosos, mas… acontece em todos os lados, tal como, por outro motivo, Jorge Amado disse a Mário Ventura:

Eu sempre digo que as melhores pessoas que conheci na minha vida, eu as conheci no Partido. Algumas das piores, também. Mas isso acontece em todos os lados.

Recordo, como se fosse hoje, ter perguntado, ao meu pai, por onde começar. 

Não hesitou: Capitães da Areia

E acertou.

Antes já tinha lido Esteiros de Soeiro Pereira Gomes, e nunca pude deixar de os sentir ligados.

Jorge Amado escreve Capitães da Areia em 1936, Soeiro Pereira Gomes escreve Esteiros em 1941.

Soeiro Pereira Gomes sempre disse que, entre os dois livros, não havia coincidências, mas diferenças essenciais.

Álvaro Pina, um estudioso do neo-realismo, realça que essas diferenças essenciais se situam no papel do trabalho e dos trabalhadores como protagonistas da sociedade nova, no protagonismo colectivo, no conteúdo revolucionário da luta por um futuro melhor, presentes mo livro de Pereira Gomes, ausentes no livro do Jorge Amado.

Puxando a brasa à sardinha: as diferenças essenciais entre os dois livros traduzem a qualidade nova do realismo de Soeiro – militante e socialista, reflexo e obreiro da resistência e da luta do povo

Discussão a dar muito para mangas.

Por agora importa realçar que estamos perante dois importantes e belíssimos livros que, cada um à sua maneira, mostram a luta pela libertação a construção de uma sociedade sem fome, sem miséria, sem crianças que nunca chegam a conhecer a felicidade de serem crianças.

Sem comentários: