sexta-feira, 17 de agosto de 2012

OLHARES


Como dizia o Ary dos Santos o amarelo da Carris teve um avô outrora, chamavam-lhe o “chora” e teve um pai americano.

Um resumo assim ao voo do pássaro do que foi a evolução dos eléctricos da cidade.

Em Setembro do ano passado, quando a Carris fez 110 anos, a frota da rede de eléctricos era constituída por sessenta e cinco carros, três ascensores e um elevador.

Desde então, o governo passostroika já eliminou outras carreiras.

Não satisfeitos acabaram, por cometer um crime hediondo: diminuíram o desconto aplicado aos passes sociais para idosos,  que passou de 50% para 25%, e estima-se que perto de 45 idosos deixaram, por isso, de poder comprar o passe destinado à terceira idade.

Os idosos já com mobilidade reduzida viram-se, de repente, impossibilitados de passear pela cidade, visitar os amigos, os familiares, assistir aos campeonatos de sueca nos jardins de Lisboa.

Confinados que ficaram a permanecer em casa, frente a uma televisão que, apenas, os estupidifica
e aliena, sentem-se, cada vez mais, isolados, mais sós. 

Foi possível chegar a isto.

Percorrendo as ruas da cidade vamos encontrando carris dos eléctricos de há muito sem funcionamento. São cerca de sete quilómetros de carril que permanece pelas ruas da cidade.

A companhia diz que a remoção desses carris desativados, é da responsabilidade da câmara que, por sua vez, diz que a responsabilidade pertence à companhia.

Entre gabinetes joga-se este ping-pong.

Aparentemente só um tribunal poderá resolver este contencioso.

Mais uns bons pares de anos.

A cidade tem problemas mais graves que os carris abandonados nas suas ruas, mas são nestes pormenores que se nota que  as gentes que deveriam amar e proteger a cidade, simplesmente a odeiam, a desprezam.

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