segunda-feira, 20 de agosto de 2012

TERTÚLIAS


Esta é a Pastelaria Cister, na Rua da Escola Politécnica, em Lisboa.

Augusto Abelaira que foi um homem de cafés, andou por aqui, nas mesas da Cister, espalhava a papelada em que desenhava os seus livros, as suas crónicas de jornal. Muitos escritores por aqui passaram, O’Neill, Tabucchi, Eduardo Guerra Carneiro, o João César Monteiro, infindável número, outros continuam a passar.

Ainda, aquando da morte de Pedro Ramos de Almeida, José Medeiros Ferreira contou que se encontravam na Cister e ali ficavam a trocar impressões.

Augusto Abelaira considerava os cafés locais de convívio, locais de beleza, locais de trabalho.

Tudo isto no tempo em que havia cafés, havia escritores, havia o maravilhoso prazer de perderem tempo a conversar uns com os outros. Tempos de amizade e respeito uns pelos outros.

José Gomes Ferreira tem, dispersos pelos Diários dos Dias Comuns, relatos desses tempos de tertúlia.

Mas já não há tertúlias de cafés.

Hoje, as pessoas, quando entram num café, apenas dele se servem para tomar a bica, olhar as mensagens do telemóvel, já nem folheiam um jornal, lêem um livro.

A prosa vem a talhe de foice porque, em tempo de releituras, encontrei isto em Bolor de Augusto Abelaira:

Mas não, não era isto que eu queria dizer, pressinto uma coisa mais importante: com os meus amigos e com o meu trabalho sou (descubro hoje) perfeitamente feliz: acho-me inteiramente satisfeito depois de uma hora de conversa com o Aleixo, o Guilherme, o Guedes, o Rui (mesmo quando nada dizemos, como òbviamente sucede quase sempre), acho-me inteiramente satisfeito de pois de uma hora de trabalho. Nesses momentos (sinto que) não falhei – amigos e trabalho dão-me tudo quanto dos amigos, tudo quanto do trabalho é exigível. Essa parte da minha vida é – como direi? – perfeita, está completa em si mesmo, não precisa de comentários escritos, nem de perguntas e, nesse sentido, há uma parte da minha vida completamente realizada, completamente feliz. Nenhuns amigos me poderiam dar mais do que eles me dão, nenhum outro trabalho me poderia dar mais do que ele me dá.

Bolor de Augusto Abelaira, Livraria Bertrand, Lisboa 1968.

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