sábado, 12 de novembro de 2016

EH ISSO NÃO SÃO MANEIRAS DE DIZER ADEUS!


Se nos quisermos agarrar às margens da filosofia, dir-nos-ão que alguém preparar-se para a morte é a grande finalidade da vida.

Com olhos brandos de mágoa, Leonard Cohen, reservou para um disco a sua despedida.

You Want It Darker foi gravado, no estúdio caseiro, em circunstâncias de enorme dor física, segundo seu filho Adam Cohen, mas que, mesmo cheio de dores, uma ou outra vez, não o impediu de ir para junto das colunas de som, e dançar até ao fim de tudo.

Se tu és o dealer, eu estou fora do jogo, se tu és o curandeiro. eu estou arrumado e miserável.

Estou pronto my lord.

Albert Camus odiava este mundo em que estamos reduzidos a Deus.

 A relação de Cohen com Deus, sempre considerou a religião  como seu  hobby favorito, será talvez uma das vertentes mais enigmáticas da sua vida e que resumiu canhestramente:

Qualquer coisa, catolicismo romano, budismo, LSD, sou a favor de tudo o que funcionar.

Cohen lamentou o fantasma em que tornou deus.

Sabendo que entre os dois apenas um era real, não hesitou em concluir que o verdadeiro era ele: Leonard Norman Cohen.

E arrancou com uma guitarra, um maço de cigarros, uma garrafa de tinto  Pommerey 1934, que as raparigas, essas, hão-de juntar-se pelo caminho.

Se a ganãncia da sua agente Kelley Lynch não lhe tivesse roubado cinco milhões de dólares, as poupanças de uma vida, e o tivesse deixado ás portas da miséria, e, por isso, aos 70 anos, o obrigasse a vir á tona, regressar à estrada e aos discos para refazer a vida, talvez Cohen se tivesse mantido cercado pelas religiões, as suas constantes e rebuscadas leituras e interpretações sobre o tal deus.

Ainda que em meados de Outubro, num encontro com amigos no consulado do Canadá em Los Angeles, tenha reconhecido que talvez tivesse exagerado no estar pronto para ir para o outro lado da rua, e entre gargalhadas tivesse dito: pretendo viver para sempre, sabia-se que o fim não tardava.

Não se vive para sempre.

Ficam as canções, que essas sim se estenderão por todas as eternidades.

Quando a Academia Sueca deu o Nobel da Literatura a Bob Dylan, muitos disseram e escreveram que , já que a Academia entendeu dar uma volta à concepção do Prémio como reconhecimento do valor literário da escrita ligada à música”,  Leonard Cohen também ficaria bem na galeria.

Ou melhor?

Leonard Cohen foi enterrado, numa cerimónia discreta e privada, em Montreal, como era seu desejo.

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