quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O DIA SEGUINTE


…sim, a possibilidade existia…
… mas poucos a quiseram olhar…
… agora estamos face à realidade, dentro da casa dos horrores, como titula o jornal do dia…
…angustiante…
…muitas outras palavras, inúteis palavras, para classificar o que aconteceu à América… ao mundo…
…e há o silêncio…
… ou ir ouvir blues…
… ou reler o humor, ácido e cortante, do Mário-Henrique Leiria nos seus Contos Do Gin-Tonic;

- Desconfio que a democracia não resulta. Juntam-se astronautas, bodes,
camponeses, galinhas, matemáticos e virgens loucas e dão-se a todos os
mesmos direitos.
Isso parece-me um erro cósmico. Desculpa.
Desculpei mas fiquei ofendido. Que a democracia era aquilo mesmo, e ainda
com conversa fiada como brinde, isso sabia eu. Que mo viessem dizer,
era outra coisa.
Fiquei ainda mais ofendido, até porque não gosto de erros cósmicos.
Acho um snobismo.
- Eu sou democrático - rugi entre dentes, como resposta. - Tenho amigos no exílio,
todos democráticos.
Foram para lá por serem democráticos. É um sacrifício que poucos fazem,
ir para o exílio e ser professor universitário exilado e democrático.
Eras capaz de fazer isso?
- Não sou democrático.
Não havia resposta a dar. Nenhuma. Ele não era democrático, não
sabia de democracia.
Eu sim, sou democrático, até já quis ir à América, que me afirmaram que
lá é que é a democracia.
Recusaram-me o visto no passaporte, disseram que eu era comunista!

Viram isto? 

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