quarta-feira, 30 de novembro de 2016

ULTIMO POEMA, ÚLTIMAS PALAVRAS


Em 19 de Novembro de 1935, segundo Richard Zenith, Fernando Pessoa escreveu o seu último poema em português:

Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta coisa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós...
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.

Dá-me mais vinho, porque a vida é nada.

Em 29 do mesmo mês e ano, escreveu as últimas palavras em inglês:

I Know not what tomorrow will bring.

Traduzindo:

Não sei o que trará o amanhã.

Fernando Pessoa morreu no Hospital de S. Luís dos Franceses, com quarenta e sete anos, no dia 30 de Novembro de 1935, vítima de uma crise hepática.

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