terça-feira, 27 de outubro de 2020

AÇO

Quebre-se de encontro à dureza das arestas

cada desregrada ilusão da minha vida.

Que os bichos vão roendo o vão caruncho

da inútil poeira de astros que imagino.

Que — sei-o bem! — lá no mais fundo,

forte e imarcescível sob os golpes

resiste a minha força verdadeira.

E o poema sempre novo no meu sangue

conhece também sua glória de aço

que vê sem dor as pobres farsas

e os caminhos cruéis em que me perco.

Veio da luz inutilizando os laços

armados no caminho à minha espera,

mão de ferro erguendo-se dos limbos

e mandando-me fitar o sol em face!

 

Adolfo Casais Monteiro

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