sábado, 17 de outubro de 2020

ANTOLOGIA DO CAIS


 Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar alguns textos que por aqui foram sendo publicados.


ADRIANO

 

Adriano Correia de Oliveira ,“alguma coisa de criança”, no dizer de Urbano Tavares Rodrigues.

Morreu no dia 16 de Outubro de 1982.

Tinha 40 anos. 

Foi um dos cantores mais desrespeitado e explorado.

Nem o Partido, a que orgulhosamente sempre pertenceu, lhe prestou o devido valor.

O Adriano não era um sectário, nem alinhava em capelinhas, pela simples razão de entender que o Partido não é nenhuma congregação religiosa.

Pensar pela própria cabeça tem riscos, e o sectarismo de muitos dos seus camaradas afectou-o profundamente. Junto a outras pequenas-grandes-coisas levaram o Adriano à morte.

Morreu por escolha.

Tirado daqui, este poema de Rui Namorado dedicado a Adriano Correia de Oliveira:

 

“Na secreta raiz de algum poema

tu nasceste por dentro das palavras.

 

Cantar era para ti uma viagem.

Sentias a revolta, nervo a nervo,

como um pássaro ferido.

 

Neste tempo rasteiro e abafado,

guardavas o veneno precioso.

 

Ias para longe de mais e o tempo passa:

os milhafres do nojo prosseguiam,

rasgando a carne pura do teu sonho.

 

Matavas o silêncio.

Mas na sombra do tempo houve uma pausa,

um outono mais rápido,

um inverno mais súbito.

E as pétalas da noite desabaram,

corroendo o teu nome de grinaldas perdidas”.

Texto publicado em 16 de Outubro de 2010.

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