segunda-feira, 19 de outubro de 2020

OLHAR AS CAPAS


Por Menos, Só Talvez no Biafra

Vitor Silva Tavares, Mário Cesariny, Sérgio Lima

Capa: Carlos Ferreira

Barco Bêbado, Lisboa, Setembro de 2020


Meu Caro Poeta

Desculpe-me o só agora. Mada por não ter ficado grato pelas suas cartas e o folheto «Noa Noa» do Le Clézio, este ao encontro do que muito prezo na intervenção editorial. Aconteceu que deambulei por outras geografias próximas do meu recolhimento – e tal foi este que até o propósito de lhe escrever se me ficou a leste. Não sem recriminações: é que não queria, não quero, que V. pensasse ter o seu contacto caído em nenhures. Julgo ter captado os sinais, a fala – afinal o que importa.

Reeditar o Pedro Oom? – Uma já neurótica tentação, sempre adiada por dúvidas, escrúpulos, falta de molécula para enfrentar as previsíveis dificuldades, talvez uma humildade castrante por exagero, talvez uma certa cobardia, talvez a assumição de uma desistência a somar ao real. Só de pensar na irmã do Pedro, senhora que me esgota a capacidade de classificação, sinto logo o desejo de não tirar a cabeça do buraco. Não que ela tenha o que quer que seja a ver com a obra do irmão, sim porque tal se atribui mais do que não seja por razões… de sangue (?!) e isso me incomoda sobremaneira.

Pretextos meus? Admito. Mas também admito que o seu convite (ou a sua proposta) me espevite para o que tem de ser feito, é sempre a Hora! Óbvio que não veria, não vejo, quem melhor, com mais propriedade e justeza pudesse organizar o livro do Pedro que o Mário Cesariny. Assim se disponha, assim desato eu o novelo em que me tenho enredado. E com júbilo!...

(de uma carta de Vitor Silva Tavares para Mário Cesariny).

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