sábado, 13 de fevereiro de 2021

DOS REBOTALHOS E COISAS ASSIM...

São muitos, mas mesmo muitos, os saudosos de Salazar, o que considerava que as torturas que a PIDE infligia aos presos, eram «meia dúzia de safanões a tempo nessas criaturas sinistras».

Esses saudosos desataram, agora, a invocar a necessidade de um governo de salvação nacional e convidam Marcelo Rebelo de Sousa a tomar a iniciativa.

Marcelo mandou-os ter juízo.

Num seu artigo de opinião no jornal Público, José Pacheco Pereira escrevia: «Não deixem os actuais “liberais” apropriarem-se da palavra “liberdade”.

E concluía:

«É por isso que depois de ter lido cem vezes a palavra “libertar”, de uma coisa estou certo: não é de “libertar” da pobreza, da desigualdade, da exclusão que se está a falar. E não digo isto por qualquer vontade de “atacar” a Iniciativa Liberal, mas porque é mesmo assim. É também por isso que eu não quereria que a palavra “liberdade” fosse capturada por estes “liberais”.»

No mesmo jornal Público, transformado num dos muitos coios  destes ditos «ultra-liberais», um traste que dá pelo nome de Fátima Bonifácio, 11 de Fevereiro, bolsava:

«Vejo no Chega precisamente pelo alarme que causa, um possível pelotão da frente para abrir caminho a uma direita clássica, democrática e – sobretudo – liberal.»

Esta gente já fala em pelotões da frente, e, é urgente e necessário, que enquanto isto vai sendo pensado e dito, não nos quedamos a discutir o sexo dos anjos.

1.

Este frio mata as almas, diziam os velhos quando Janeiro e Fevereiro lhes batia às portas.

Ao fim de tantos dias de frio e chuva, voltou o sol.

Sabemos que a Primavera virá, mas mais importante, é estarmos à espera da sua chegada.

3.

O Santuário de Fátima vive um ano dramático. Com quebras de 50% dos donativos.

O drama dos pais que já não conseguem dar de comer aos filhos.

Uma trabalhadora de um «call-center» numa reportagem no Público:

«Eu se quiser ser uma boa mãe, sou uma má trabalhadora . E vice-versa.»

3.

Este silêncio esmagador, algo maligno.

4.

Há dias, Pedro Tadeu, recreando os Panfletos de Ruben Carvalho, lembrava a canção «Goodnight Irene»  gravada pela primeira vez por  Huddie Ledbetter em 1933.

Terei conhecido a canção, na voz de Nat King Cole, no correr de finais dos anos 50, princípios de 60, e ficou-me no ouvido. Mais tarde percebi de onde, e como vinha.

Julius Rosenberg, juntamente com sua mulher Ethel Rosenberg, injustamente acusados de espionagem a favor dos soviéticos, foram condenados à morte na prisão de Sing Sing.

A execução ocorreu no dia 19 de Junho de 1953.

Os tempos do McCarthismo nos Estados Unidos, arrepiam, causam horror.

Um verdadeiro clima de paranoia anti-comunista durante aquilo que a história chama de «guerra-fria».

Joseph McCarthy encetou uma autêntica «caça às bruxas», denunciando a presença de comunistas infiltrados no sistema norte-americano que abrangeram escritores, jornalistas e de que se conhecem episódios gritantes em Hollywood, uma perseguição impiedosa a realizadores, actores, argumentistas, etc., em audiências que espalharam o terror, deixando sequelas nunca completamente iluminadas. Olhe-se o consulado do tarado Donald Trum enquanto presidente dos estados Unidos, e não só.

A célebre pergunta:

«Alguma vez foi membro ou participou em actividades ligadas ao Partido Comunista?»

Julius Rosenberg, como última vontade, quis ouvir «Goodnight Irene».

«Boa noite, Irene, boa noite, ver-te-ei nos meus sonhos.»


3 comentários:

Seve disse...

Nunca é demais lembrar:

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Bertolt Brecht

Sammy, o paquete disse...


O Seve foi buscar um caso curioso.
Tenho duas antologias de poemas de Bertolt Brecht.
Em nenhuma se encontra este texto. Um texto que conhece diversas conclusões e palavras. Li algures que o texto começa por ser um esboço de sermão de Martin Niemoller, protestante anti-nazi:
«Quando os nazis levaram os comunistas, não protestei, porque, afinal, eu não era comunista. Quando levaram os social-democratas, não protestei, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando levaram os sindicalistas, não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando me levaram a mim, já não havia ninguém que protestasse.»
Depois aparece a versão atribuída a Bertolt Brecht:
«Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.»
A versão que o Seve apresenta é uma das tais variações atribuída a brasileiros que, nestas coisas, como em outras, são uns verdadeiros artistas, daí terem encharcado o mundo com telenovelas, completas aberrações em que os pequenos-almoços que se vêem nessas novelas são «gourmet», isto num povo que passa fome e
diversas e angustiantes privações.
Desculpe o longo comentário. Nada do que aqui fica transcrito, em relação à autoria do texto, é da minha investigação, apenas leituras de terceiros lidas na internet, que é uma coisa maravilhosa mas ao mesmo tempo um perigo de não sei quantas facas afiadas.
Abraço

Seve disse...

Tens razão ó Sammy porque efectivamente (lembro-me agora)já vi outras versões deste texto de BB; cómoda e inadvertidamente fui buscar a que tinha mais à mão e confirmei que é realmente uma "habilidade" brasileira -mas vale a intenção-.