quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

OLHAR AS CAPAS


Pequenos Burgueses

Elio Vittorini

Tradução: Maria Manuela Gonçalves

Capa: António Domingues

Colecção: O Livro das Três Abelhas nº 46

Sete anos! Como era possível não ir ainda à escola? O avô e os tios, à força de me quererem com eles, tinham convencido o meu pai, julgo eu, a ensinar-me em casa. Meu pai, empregado nos caminhos de ferro, e por isso obrigado a viver em certas estaçõezinhas perdidas nos confins da Calábria, da Sicília ou não sei onde, deixou que continuasse a estragar-me durante seis ou sete meses por ano em casa daqueles «negociantes», como ele chamava nas suas cartas aos nosso parentes gorizianos. À Gorìzia liga-se a melhor metade da minha infância, a parte ligeira, celeste, de uma nuvem que em baixo, sobre a face paterna e ferroviária, me sufoca, negra de tempestade. Ali, naquela Gorìzia, a casa e os jardins públicos ficavam perto, da janela via-se deslizar uma estrada que não sei se tornarei a ver e rodeava-me, disposto em escada, como no sonha de Jacob, um paraíso de pessoas queridas, os «negociantes»: os primos, o tio Ernesto, o tio Odoardo, a tia Benedetta, Lussia e ao avô, o omnipotente e omnividente. Hoje tudo mudou e nem sequer recordo os nomes desaparecidos das ruas ou das coisas tal como eram; algumas pessoas morreram, outras já não se parecem nada como as que eu amava.

2 comentários:

Seve disse...

Esta colecção "O livro das três abelhas" era muito interessante.

Sammy o Paquete disse...

«O Livro das Três Abelhas», a «Colecção de Bolso da Portugália Editora», a «Colecção Miniatura» dos Livros do Brasil. Foi nestes livros, a preços acessíveis, se é que naqueles tempos de dias cinzentos, em termos de dinheiro que não havia, alguma coisa era acessível, que li obras fundamentais para o meu conhecimento. Foi nos livros da Portugália que li quase todo o neo-realismo italiano: Cesar Pavese, Elio Vottorini, Italo Calvino, Vasco Patrollini, na Colecção Miniatura quase toda a obra do Albert camus