sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

OLHAR AS CAPAS


O Ministério do Medo

Graham Greene

Tradução: Maria Lucília Rebocho Filipe

Capa: Antunes

Círculo de Leitores, Lisboa, Novembro de 1985 

Quando uma pessoa apaga uma marca de lápis, deve ter o cuidado de verificar se a linha desapareceu. Porque se um segredo é para guardar, nenhum cuidado é de mais. Se o doutor Forester não tivesse apagado tão mal os traços de lápis, nas margens da obra de Tolstoi, o senhor Rennit nunca teria sabido o que acontecera a Jones, Johns teria permanecido o adorador de heróis e era possível que o major Stone tivesse definhado lentamente para maiores profundidades da loucura, entre as paredes almofadadas do seu quarto, na zona dos doentes. E Digby? Digby teria permanecido Digby.

Porque foram as marcas de lápis, apagado, que mantiveram Digby acordado, a pensar, ao fim de um dia de solidão e aborrecimento. Não se podia respeitar um homem que não se atrevia a sustentar as suas opiniões abertamente e quando o respeito pelo doutor Forester desapareceu, muita coisa desapareceu com ele. O nobre rosto tornou-se menos convincente. Até as suas qualificações se tornaram questionáveis. Que direito tinha ele de proibir os jornais… acima de tudo, que direito tinha de proibir as visitas de Anna Hilfe?

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