quinta-feira, 23 de junho de 2022

CONVERSANDO

Camus e Sartre nunca se entenderam, nunca se compreenderam.

Os horizontes de Camus viviam das paisagens áridas, das gentes  da Algéria, nunca dos cafés de Paris onde se discutiam algo que estava muito longe do mundo de Camus.

 «Sei o que é o domingo para um homem pobre que trabalha. Sei sobretudo o que é o domingo à noite e se eu pudesse dar um sentido e uma figura ao que sei, poderia fazer de um domingo pobre uma obra de humanidade», escreve Camus nos seus Cadernos  

Sartre numa carta a Camus:

 «Nossa amizade não era fácil, lamento-o. Se hoje é quebrada, certamente é porque isso teria que acontecer. Muitas coisas nos aproximaram, poucas nos separaram. Mas esse pouco é muito: a amizade, ela também, tem tendência para ser totalitária; o acordo sobre tudo é necessário, e as mesmas indeterminações tornam-nos militantes de partidos imaginários.»

 Parece fácil perceber porque Albert Camus me interessou mais que Jean-Paul Sartre.

 Num estudo que vem em O Mito de Sísifo, escreve Liselotte Richter:

 «Para Camus não há transcendência. Também a liberdade é absurda. A liberdade de existir não existe. Existe a morte para acabar com tudo. Depois dela nada existe. Não há amanhã. Todos os objectivos burgueses são ilusão e preconceitos.»

Sem comentários: