E voltamos à questão
do aborto.
No Público de 26 de Fevereiro, a jornalista
Ana Sá Lopes escreve um artigo de opinião: «ISTO DO ABORTO É UMA ESPÈCIE DE ILEGALIZAÇÃO NO SNS, NÃO É?:
«É proibido, mas
faz-se.” A frase de Marcelo Rebelo de Sousa, opositor à legalização do aborto
nos idos 98, e depois convertido à realidade jurídica no segundo referendo, deu
um dos mais geniais sketches do grupo Gato Fedorento. Foi um “bit” tão marcante
que alguns comentadores políticos acharam que o humor tinha tido, desta vez,
genuína influência na vitória do “sim” no segundo referendo.
Sou desse tempo, do
“é proibido, mas pode-se fazer”. Era preciso primeiro arranjar um contacto;
havia “senhoras” — habitualmente enfermeiras, mas também algumas médicas e não
vou falar das possibilidades mais repugnantes — que aceitavam pagamentos a
prestações. Havia clínicas de luxo em Benfica, Lisboa; havia marquises pobres
em Benfica, Lisboa. Em todas as cidades algumas tabuletas revelavam casas onde
vivia ou “exercia” uma “parteira diplomada”.
A reportagem de
Fernanda Câncio no Diário de Notícias da semana passada deu um retrato chocante
— e confesso que para mim totalmente desconhecido — da realidade do que é
conseguir fazer um aborto legal e gratuito no Serviço Nacional de Saúde. Na
verdade, a forma como as mulheres são tratadas demonstra que o que se está a
passar agora é uma ilegalização, não por força de políticos republicanos dos
Estados Unidos que são contra o aborto, mas por incapacidade do sistema e por
“estar-se nas tintas”. O resultado é o mesmo: se não se consegue abortar legalmente,
não vale a pena achar que somos assim tão diferentes dos estados americanos que
ilegalizaram a interrupção voluntária da gravidez. Aqui, não é proibido, mas
não se faz.»
À PARTE
1.
O ministro da Saúde ,
Manuel Pizarro, declarou que irá resolver o problema em “meia dúzia de semanas”.
O senhor ministro é
um homem optimista. Para bem do problema que seja apenas isso!
2.
Lá muito para trás, em
22 de Outubro de 1981, D. António Ribeiro, Cardeal-Patriarca de Lisboa, disse
aos jornalistas:
«Quem liberalizar o aborto terá de se haver com a igreja!»
E o bispo de Viseu, em 1 de Junho de 1988 aquando do referendo sobre a lei do Aborto, disse:
«Quem votar "sim" deve sair da Igreja!»
3.
Também lembrar
Natália Correia e a resposta poética a um deputado do CDS:
4.
Alguns recortes dos
anos 80:
5.
O poema «Crescei e
multiplicai-vos», que encima o texto é da autoria do poeta e pintor espanhol
Carlos San Roman e foi traduzido por Urbano Tavares Rodrigues.
Sem comentários:
Enviar um comentário