Só agora me
chegou às mãos o artigo que Isabel Coutinho escreveu, no Público, (10 de
Janeiro) sobre a mudança de agente para os direitos internacionais da obra de
José Saramago.
Isabel Coutinho
cita uma conversa com o director da Fundação José Saramago em que é
adiantada que a decisão de mudar de agência foi tomada por se ter chegado à
conclusão de que era tempo de alterar rotinas e situações existentes, passando
a haver uma presença mais agressiva e mais abrangente da obra de José saramago
no circuito editorial i9nternacional.
Num comunicado
enviado à Lusa os herdeiros de José Saramago lembram que há alguns
livros antigos do autor que não estão editados ainda em alguns países, para
além das obras recentes como Clarabóia e Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas
e sobre isso que recairá a tenção da Agência Andrew Wylie.
Quanto aos
livros antigos não publicados haveria que conversar e avançar com a sua publicação,
quanto aos livros recentes, tenho a ideia – mas quem sou eu? – que essas obras têm
um interesse factual e histórico, porque Clarabóia é um romance de iniciação, data de 1953 e as páginas deixadas de Alabardas, Alabardas,
Espingardas, Espingardas são um projecto
de livro que a morte de Saramago interrompeu.
Escrevi que Saramago, provavelmente, não concordaria com a mudança de editor e Isabel Coutinho, com sagaz oportunidade, lembra
que, em Dezembro de 2008, o agente literário Andrew Wylie era, citado por
Saramago, como homem de fama mas não pelas melhores razões…
Isabel Coutinho
lembra ainda que a Agência AndrewWylie é conhecida no meio dos agentes
literários como O Chacal.
As orientações
dos herdeiros de José Saramago parecem-me – mas quem sou eu? – mais viradas
para os cifrões do que para a obra saramaguiana.
Por mera
curiosidade, reproduzo o post em que José Saramago refere as não melhores
razões da fama de Andrew Wylie:
Os editores
Voltaire não tinha agente literário. Não o teve ele
nem nenhum escritor do seu tempo e de largos tempos mais. O agente literário
simplesmente não existia. O negócio, se assim lhe quisermos chamar, funcionava
com dois únicos interlocutores, o autor e o editor. O autor tinha a obra, o
editor os meios para publicá-la, nenhum intermediário entre um e outro. Era o
tempo da inocência. Não quer isto dizer que o agente literário tenha sido e
continue a ser a serpente tentadora nascida para perverter as harmonias de um
paraíso que, verdadeiramente, nunca existiu. Porém, directa ou indirectamente,
o agente literário foi o ovo posto por uma indústria editorial que havia
passado a preocupar-se muito mais com um descobrimento em cadeia de best-sellers que
com a publicação e a divulgação de obras de mérito. Os escritores, gente em
geral ingénua que facilmente se deixa iludir pelo agente literário do tipo
chacal ou tubarão, correm atrás de promessas de vultosos adiantamentos e de
promoções planetárias como se disso dependesse a sua vida. E não é assim. Um
adiantamento é simplesmente um pagamento por conta, e, quanto a promoções,
todos temos a obrigação de saber, por experiência, que as realidades ficam
quase sempre aquém das expectativas.Estas considerações não são mais que uma
modesta glosa da excelente conferência pronunciada por Basílio Baltasar em
finais de Novembro no México, com o título de “A desejada morte do editor”, na
sequência de uma entrevista dada a “El País” pelo famoso agente literário
Andrew Willie. Famoso, digo, embora nem sempre pelas melhores razões. Não me
atreveria, nem seria este o lugar adequado, a resumir as pertinentes análises
de Basilio Baltasar a partir da estulta declaração do dito Willie de que “O
editor é nada, nada” e que me recorda as palavras de Roland Barthes quando
anunciou a morte do autor… Afinal, o autor não morreu, e o ressurgimento
do editor amante do seu trabalho está nas mãos do editor, se assim o quiser. E
também nas mãos dos escritores a quem vivamente recomendo a leitura da conferência
de Basilio Baltasar, que deverá ser publicada, e um seu consequente debate.
Sem comentários:
Enviar um comentário