quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


Certo dia, o Jesse acordou antes do meio-dia, um acontecimento que festejei mostrando-lhe oo7 – Agente Secreto (1962). Era o primeiro filme do James Bond. Tentei explicar-lhe a excitação que aqueles filmes causaram quando surgiram, em meados dos anos sessenta. Pareciam tão sofisticados, tão picantes. Expliquei-lhe que os filmes têm um efeito especial sobre nós quando somos muito jovens: despertam a nossa imaginação de uma forma que é difícil repetir quando somos mais velhos. Vibramos com o filme como nunca mais o faremos.
Hoje em dia, quando vou ao cinema, estou sempre a prestar atenção a tantas coisas, ao marido que fala com a mulher umas filas mais à frente, a alguém que acaba s pipocas e atira o balde para o corredor. Estou atento à edição, aos maus diálogos e aos maus actores; às vezes vejo uma cena com muitos figurantes e dou por mim a pensar: serão actores de verdade, estarão a gostar de ser figurantes ou tristes por não estar na ribalta? Poer exemplo, aparece uma rapariga no centro de comunicações no início de 007 – Agente Secreto. Tem uma ou duas falas, mas nunca mais volta a parecer no ecrã. Pergunto-me o que terá acontecido a todas aquelas pessoas que aparecem nas cenas de multidões, nas cenas de festas: o que é que acabaram por fazer na vida? Terão desistido de representar e escolhido outra profissão qualquer?
Todas estas coisas perturbam a maneira como vejo um filme, Antigamente, podiam disparar uma pistola ao meu lado que não me teriam desconcentrado das imagens que se desenrolavam no ecrã à minha frente. Revejo filmes antigos não apenas para os ver novamente, mas também na esperança de voltar a sentir o mesmo que da primeira vez.

David Gilmour em O Clube de Cinema

Legenda: UrsulaAndres em 007 – Agente Secreto

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