Certo dia, o Jesse acordou antes do meio-dia, um
acontecimento que festejei mostrando-lhe oo7 – Agente Secreto (1962). Era o primeiro
filme do James Bond. Tentei explicar-lhe a excitação que aqueles filmes
causaram quando surgiram, em meados dos anos sessenta. Pareciam tão
sofisticados, tão picantes. Expliquei-lhe que os filmes têm um efeito especial
sobre nós quando somos muito jovens: despertam a nossa imaginação de uma forma
que é difícil repetir quando somos mais velhos. Vibramos com o filme como nunca
mais o faremos.
Hoje em dia, quando vou ao cinema, estou sempre a
prestar atenção a tantas coisas, ao marido que fala com a mulher umas filas
mais à frente, a alguém que acaba s pipocas e atira o balde para o corredor.
Estou atento à edição, aos maus diálogos e aos maus actores; às vezes vejo uma
cena com muitos figurantes e dou por mim a pensar: serão actores de verdade,
estarão a gostar de ser figurantes ou tristes por não estar na ribalta? Poer
exemplo, aparece uma rapariga no centro de comunicações no início de 007 –
Agente Secreto. Tem uma ou duas falas, mas nunca mais volta a parecer no ecrã.
Pergunto-me o que terá acontecido a todas aquelas pessoas que aparecem nas cenas
de multidões, nas cenas de festas: o que é que acabaram por fazer na vida?
Terão desistido de representar e escolhido outra profissão qualquer?
Todas estas coisas perturbam a maneira como vejo um
filme, Antigamente, podiam disparar uma pistola ao meu lado que não me teriam
desconcentrado das imagens que se desenrolavam no ecrã à minha frente. Revejo
filmes antigos não apenas para os ver novamente, mas também na esperança de
voltar a sentir o mesmo que da primeira vez.
David Gilmour em
O Clube de Cinema
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