domingo, 25 de janeiro de 2015

UMA RAINHA SEM REINO


Tinha 19 anos, ainda não chegara ao esplendor total, quando casou com o minorca Mickey Rooney, que passou o tempo, enquanto estiveram juntos, com infidelidades.

Seguiu-se o casamento com o director de orquestra Artie Shaw, que detestava que ela fosse actriz, as coisas também não correram nada bem e levou-a descambar numa série de casos que, ainda mais, a tornaram dependente do álcool.

 Até que numa noite, depois de dançar com Frank Sinatra, talvez Dancing in the Dark, este convidou-a para dar uma volta no seu Cadillac.

No banco de trás do carro, seguiam algumas garrafas de fosse do que fosse, porque, tanto um como o outro, em matéria de bebidas, tudo o que viesse à rede era para despejar.

Vulcanicamente bem bebidos, numa rua de Indio, desataram aos tiros. A polícia apareceu e Frank telefonou ao amigo Jack Keller: … esta noite eu e aqui a garota, enfrascámo-nos um bocado, viemos até Palm Springs e pensámos que era capaz de ser divertido dar uns tiros para os candeeiros e para as montras, mais nada.

Houve que, generosamente besuntar as mãos dos polícias para que o caso não saltasse para as primeiras páginas dos jornais.


Sinatra, casado com Nancy, não hesitou e envolveu-se com Ava, a mulher cujos olhos verdes sarapintados de amarelo pareciam irradiar uma luz mais brilhante do que o sol.

História de amor e tentação.

Ela enfeitiçou-me, contava Frank aos amigos.

 Mas à medida que o tempo corria e Sinatra não ajustava o divórcio, Ava começou a andar engalfinhada com todo o bicho careta que lhe foi aparecendo, principalmente italianos para deixar Frank, ainda mais em polvorosa.

Artie Shaw de novo em cena e Sinatra que, o odiava por o maestro se ter recusado a colocá-lo como cantor na sua orquestra, ameaçou-o de morte.

Em autobiografia não autorizada, Kitty Kelley mostra à saciedade que Ava Gardner, em turbulência sem medida, pôs a cabeça de Frank em Jack Daniels.
Ava Gardner: uma mulher capaz de tudo.

Como diria Hugo Pratt seria maravilhoso cair nos seus braços sem cair nas suas mãos.

No dia 23 de Agosto de 1941 fez um teste para a MGM.

O produtor George Sidney concluiu:

Não sabe representar, mas é um belo pedaço de mercadoria.

Assim foi.


Quando a felicitavam por uma qualquer representação, dizia:

Você sabe que eu não represento a ponta de um corno.

Ava, mito e magia, mas nunca acreditou no seu talento.

Se eu soubesse representar tudo seria diferente… mas tive o azar de ter esta cara fotogénica, disse a Henry King durante as filmagens de As Neves de Kilimanjaro.

Mas diferente para quê?

Veja-se o que se passa em A Condessa Descalça em Pandora, em Mogambo, em Noites de Iguana e não digam que isso não é cinema.

O cinema, no dizer de Jean Renoir, é a arte de pôr mulheres bonitas a fazer coisas bonitas.

No dia 20 de Outubro de 1953, as relações públicas da MGM anunciavam que, apesar de todas as esforços de reconciliação, o casamento entre Ava Frank chegara ao fim, mas o divórcio apenas se concluiu em 1956.

O crítico George Simon escreveu que Frank Sinatra produziu alguns dos seus mais emocionantes discos enquanto esteve com Ava Gardner.

Como os antigos cantores de blues, Frank despejava a sua alma, fazendo as suas baladas parecerem hinos ao remorso.

Segundo o orquestrador Nelson Riddle foi Ava Gardner quem conseguiu isso, ensinou-o a canta as canções de amor infeliz. Foi assim que ele aprendeu.


Ela foi o maior amor da vida dele e tinha-a perdido.


A alguém perguntaram se tinha animais em casa.

O alguém sorriu e disse que sim: na parede tinha um post de Ava Gardner, o mais belo animal do mundo.

Nasceu, na véspera de Natal do ano de 1922, o pai era trabalhador numa plantação de tabaco em Grabtown, Smithfield, Carolina do Norte.

Um oportuno capricho de Mr. Santa Claus, uma bela prenda de Natal oferecida aos homens, os de boa e os de má vontade.

Morreu, apos uma longuíssima agonia, aos 67 anos, completamente destroçada pela bebida.

Um mulher dominada pela fatalidade, disse George Cukor.

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