Continuar aos saltos até ultrapassar a Lua
continuar deitado até se destruir a cama
permanecer de pé até a polícia vir
permanecer sentado até que o pai morra
Arrancar os cabelos e não morrer numa rua solitária
amar continuamente a posição vertical
e continuamente fazer ângulos rectos
Gritar da janela até que a vizinha ponha as mamas de
fora
pôr-se nu em casa até a escultora dar o sexo
fazer gestos no café até espantar a clientela
pregar sustos nas esquinas até que uma velhinha caia
contar histórias obscenas uma noite em família
narrar um crime perfeito a um adolescente loiro
beber um copo de leite e misturar-lhe nitro-glicerina
deixar fumar um cigarro só até meio
Abrirem-se covas e esquecerem-se os dias
beber-se por um copo de oiro e sonharem-se Índias.
António Maria
Lisboa, poema dedicado a Mário-Henrique Leiria
Legenda: Grupo Surrealista de Lisboa, Portugal 1949.
Na foto, da esquerda para a direita : Henrique Risques Pereira, Mário Henrique
Leiria, António Maria Lisboa, Pedro Oom, Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas,
Carlos Eurico da Costa e Fernando Alves dos Santos. I Exposição dos
Surrealistas, Junho/Julho, 1949.
Imagem retirada
de Citizen Grave
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