terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O COMBOIO


Ainda me lembro do tempo em que o comboio era o horário do campo e por ele se acertavam as tarefas. Se era ouvido o seu silvo estridente, indicava chuva, e acautelava-se o feijão que secava na eira, preparava-se o machado para cortar lenha, reparavam-se os socos. As traças, que tinham feito ninho no capote, eram desalojadas do casulo. Os carolos de milho amontoavam-se atrás do preguiceiro antes de caírem as primeiras chuvadas. O trâmuei das cinco parecia atravessar o monte, era sinal de que as nuvens andavam baixas e a água com elas.
Mas a estação do Porto, que foi durante muitos anos um palácio incompleto, sempre me pareceu um lugar de esperança e de arrepios, Era nela que começavam as férias também. Os seus painéis vidrados serviam de tapeçaria à nossa entrada na vida nova, no amor, no estudo e no encontro com o mundo que queremos merecer e amar.

Agustina Bessa-Luís em Caderno de Significados

Legenda: Estação de São Bento no Porto.

                Fotografia tirada de CruzeirosTurísticos do Douro   

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