Ainda me lembro do tempo em que o comboio era o horário
do campo e por ele se acertavam as tarefas. Se era ouvido o seu silvo estridente,
indicava chuva, e acautelava-se o feijão que secava na eira, preparava-se o
machado para cortar lenha, reparavam-se os socos. As traças, que tinham feito
ninho no capote, eram desalojadas do casulo. Os carolos de milho amontoavam-se
atrás do preguiceiro antes de caírem as primeiras chuvadas. O trâmuei das cinco
parecia atravessar o monte, era sinal de que as nuvens andavam baixas e a água
com elas.
Mas a estação do Porto, que foi durante muitos anos um
palácio incompleto, sempre me pareceu um lugar de esperança e de arrepios, Era
nela que começavam as férias também. Os seus painéis vidrados serviam de
tapeçaria à nossa entrada na vida nova, no amor, no estudo e no encontro com o
mundo que queremos merecer e amar.
Agustina
Bessa-Luís em Caderno de Significados
Legenda: Estação
de São Bento no Porto.
Fotografia tirada de CruzeirosTurísticos do Douro
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