sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

SARAMAGUEANDO


Quando os herdeiros de José Saramago entenderam cessar o seu trabalho de edição com a Leya aceitei de bom grado a decisão. A Caminho, juntamente com outras editoras, foi engolida por esse saco de gatos que é a Leya, cujos proprietários estão mais interessados em ouvir – se ainda as houvesse -, as caixas registadoras a tilintar, do que ter o gosto e amor pelos livros e os seus autores.

A Caminho sempre foi a editora de José Saramago, se perdeu a sua identidade, não havia justificação para continuar a ligação.

A passagem da edição dos livros de Saramago para a Porto Editora, se bem que seja, também um grupo em que existem contornos semelhantes aos da Leya, possui a vantagem de, à frente da parte editorial, ter um homem que gosta de livros e respeita os autores – o poeta Manuel Alberto Valente.

Agora soube-se que os herdeiros de José Saramago, prescindiram dos serviços da Agência Literária Merlin que, durante 28 anos, foi representante dos direitos internacionais da obra de José Saramago, e entregaram a representação a uma outra agência. 

Nicole Witt, em comunicado enviado à Lusa diz que muito antes da sua consagração com o prémio Nobel da Literatura, em 1998, já a agência tinha conseguido uma lista significativa de traduções da obra de Saramago, primeiro, sob a direcção de Ray-Güde Mertin, que durante muitos anos também foi a tradutora para alemão da obra do autor.

Com a equipa da agência, descreveu Nicole Witt, sempre nos entregámos com dedicação, atenção pessoal, convicção, profissionalismo, ética e integridade moral à nossa tarefa de divulgação da obra de José Saramago pelo mundo fora. Não tenho dúvidas de que esta postura foi especialmente apreciada pelo autor. Quando me despedi de José Saramago, em Junho de 2010, em Lanzarote, pouco antes do seu falecimento, senti que ele confiava no nosso trabalho e que estava satisfeito com os resultados obtidos: uma divulgação da sua obra em mais de 60 países, em editoras excelentes, fazendo parte da melhor literatura mundial.

Nicole Witt não entende a decisão dos herdeiros de José Saramago.

Se alguma razão existe, não a conheço.

José Saramago, que pautou os seus dias pela lealdade nas relações comerciais, - e não só! – provavelmente, não apoiaria.

Tendo por estes dias, a remexer em papéis e livros do Luiz Pacheco, encontrei este pedaço de uma entrevista dada, em Julho de 1996, a Paula Moura Pinheiro:

Eu nunca aguentaria uma situação idêntica à do Saramago, por exemplo. A Pilar controla tudo, de manhã à noite. O homem não pode ter aventuras nem com homens nem com mulheres. Nada. Está ali com o mirone sempre a pau. O que é que há-de fazer? Faz boletins do gabinete do senhor escritor José Saramago. Tanto dá que tenha sido escrito por ele, pela mulher-a-dias, pela Pilar, pela Desidéria. Ele no fim assina e pronto. Vai aqui, vai ali, recebe prémio, não recebe prémio. Ele é um computador. Mesmo que tivesse vivido ao longo destes anos uma aventura qualquer não pode escrevê-la Está impedido.

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