sábado, 21 de janeiro de 2017

«MEU, NÃO ACREDITO NISTO»


Orbison, na verdade, transcendia todos os géneros – folk, country, rock-and-roll, e quase tudo o mais. As suas músicas misturavam todos os estilos e até alguns que ainda não tinham sido inventados. Ele podia soar mal e desagradável num verso e depois, no verso seguinte, cantar numa voz de falsete como a do Frankie Valli. Com o Roy não se sabia se estávamos a ouvir mariachi ou ópera. Ficávamos com pele de galinha. Tudo nele era oito ou oitenta. Soava como se estivéssemos no cimo do monte Olimpo e soubesse o que andava a fazer. Uma das suas primeiras canções, «Ooby Dooby» tinha sido bastante popular mas a sua nova canção não era nada assim. «Ooby Dooby» era decepcionantemente simples, mas Roy tinha progredido. Estava agora a cantar as suas composições em três ou quatro oitavas, o que nos dava vontade de atirar com o carro por uma ravina abaixo. Cantava como um criminosos profissional. Começava por um nível baixo, quase inaudível, mantinha-se por lá e depois, surpreendentemente, lançava-se para entoações exageradas. A sua voz podia enlouquecer um cadáver e fazia-nos resmungar coisas do género «Meu, não acredito nisto». As canções dele tinham canções dentro de canções. Alternavam de tonalidade maior para menor sem qualquer lógica. Orbison não brincava em serviço – não era nem um amador nem um principiante. Não havia nada como ele na rádio. Ficava na esperança de ouvir outras canções boas mas comparado com Roy, o que passava na rádio era uma chatice… sem coragem e sem energia. Tratavam-nos como se não tivéssemos cérebro. À excepção do George Jones, não gostava da música country. Elvis Presley. Já ninguém o ouvia. Há anos que ele tinha feito aquelas coisas com as ancas e levado as canções a outros planetas. Ainda assim, eu continuava a ligar o rádio, provavelmente mais por hábito do que por qualquer outra razão.

Bob Dylan em Crónicas

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