sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

PARA NÃO LHE CHAMAR OUTRA COISA


Já li a nossa homenagem ao Pascoaes nos Cadernos. Não sendo ainda o que o nosso grande poeta merece, é no entanto uma coisa digna, limpa, com alguns depoimentos sérios. Sabe, Jorge, sinto o Pascoaes crescer espantosamente, dia a dia. Agora ao reler certos livros e ao ler outros, de prosa, que ainda não tinha lido, sinto-me envergonhado. Ele era tão grande, e nós à sua roda, não dávamos por essa grandeza excessiva! Não faz ideia, como isso, ontem à noite, ao acabar o Duplo Passeio, se me tornou evidente. Até o que não presta é de boa qualidade! Tem presente este livro? Se não tem, releia-o, peço-lhe. Algumas páginas são tão grandes como certo Rimbaud, certo Lautréamont.
O depoimento do Torga é chocante, para não lhe chamar outra coisa. Naturalmente que a obra do Pascoaes tem defeitos, todos nós o sabemos. Qual é o grande poeta que os não tem? Mas reduzi-lo a esses defeitos, como o torga faz, é… horrível! Creio que não fui só eu a ficar chocado. Muita gente me tem falado nisso.

Eugénio de Andrade, carta datada de 11 de Fevereiro de 1953, em Correspondência Jorge de Sena/Eugénio de Andrade.

Jorge de Sena, em carta datada de 3 de Março de 1953, responde a Eugénio de Andrade e refere o depoimento de Miguel Torga:

Ocorre-me, agora, a prosa de Torga, de facto bastante triste – mas não terá pelo menos a virtude de ser sincera… na medida em que mais uma vez Torga se confessa o «único»?

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