terça-feira, 3 de janeiro de 2017

UM MUNDO ATÉ AO INFINITO


Tenho dez anos e conheço todas as rachas e buracos dos passeios em Randolph Street, a minha rua, onde sou ora Aníbal a vencer os Alpes, um fuzileiro num combate terrível numa montanha ou todos os cowboys possíveis e imaginários a atravessar os caminhos rochosos da Serra Nevada. A rastejar com a barriga sobe a pedra, ao lado dos minúsculos montes de formigas que se erguem como vulcões nos sítios onde a terra e o cimento se encontram, o meu mundo estende-se até ao infinito ou, pelo menos, até à casa do Peter McDermott, na esquina de Lincoln com a Randolph, um quarteirão mais acima.
Fui transportado por essas ruas no meu carrinho de bebé, foi nelas que aprendi a andar, que o meu avô me ensinou a andar de bicicleta e que tive as primeiras cenas de pancadaria. Foi lá que fiquei a conhecer a profundidade e o conforto das verdadeiras amizades, que tive os primeiros momentos de excitação sexual e que, nos serões antes de existir ar condicionado, via os alpendres das casas encherem-se de vizinhos desejosos de conversar e descansar do calor de varão.
                                                 
Bruce Springsteen em Born To Run

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