quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

OLHAR AS CAPAS


Obra Completa

António Gedeão
Notas Introdutórias de Natália Nunes
Capa: Raquel Porto
Relógio D’Água, Lisboa, Novembro de 2007

- Minha mãe, haverá mundo
para além da Trafaria?

- Não sei, meu filho. Não sei.
Tudo aquilo que sabia
já no meu sangue te dei.

- Que serras são estas, mãe,
que não nos deixam ver nada?

- São rugas que a Terra tem.
Não maces a tua mãe.
Deixa-me estar descansada.

- Ó mãe, que rio é aquele?
Onde nasce e onde morre?

- Ó filho, é Deus que o impele.
Entretém-te a olhar para ele.
É um rio. Tem água. Corre.

- Quando eu for crescido, mãe,
quero saber e entender.

- Ó filho, o supremo bem
é cada qual, com o que tem,
resignar-se e agradecer.

Deus faz tudo pelo melhor.
Não se engana nem se esquece.
De todo o mal, o maior,
seria sempre pior
se Deus assim o quisesse.
Ninguém foge ao seu destino.
Está tudo determinado.
Não penses com desatino.
Dorme, dorme, meu menino.
um soninho descansado.

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