terça-feira, 10 de janeiro de 2017

RECADOS


Scott Fitzgerald ainda viveu quatro anos depois de escrever A Fenda Aberta.
Esteve em Hollywood a fazer argumentos para o cinema (nunca filmados como os imaginou); mandou histórias curtas a jornais (todas incluíveis entre o mai banal da sua produção); iniciou The Last Tycoon, romance (que não teve fôlego para cabar; apaixonou-se por Sheilah Graham – perdi a faculdade de esperar nestes caminhos que levam aos asilos da Zelda, deixou escrito num caderno de notas – (versão pobre e oxigenada das elegâncias das suas heroínas); e em 21 de Dezembro de 1940 sofreu um ataque cardíaco (a que o seu corpo minado pelo álcool não soube resistir).
Foi poupado, no entanto, à morte de Zelda. Morte de oito anos mais tarde – ela doida, de não haver nada a fazer-lhe – sufocada e consumida por chamas num incêndio do manicómio que a internava.
Numa carta, Hemingway tinha-lhe certo dia dado um conselho difícil: esquece, esquece lá a tragédia pessoal… Não és personagem de tragédia. Nem eu. Não passamos, ambos, de escritores…

Aníbal Fernandes, posfácio em A Fenda Aberta.

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