sábado, 7 de janeiro de 2017

LER PODE SER MELHOR QUE VIVER


Pode-se viver sem ler?

Pode, mas vive-se pior.

Há discursos sagrados em redor dos livros mas nada impede que Pepe Carvalho, o célebre detective de Manuel Vasquez Montalban, doente pelo Barcelona, bom garfo, amante de um bom cognac e um “puro” , também de boleros, admirador de mulheres nas “ramblas”, pusesse o detective de Manuel Vasquez Montalban, todas as noites acender a lareira com as páginas das suas leituras preferidas.

Num país de iletrados não é difícil encontrar ignorantes.

Pena é que sejam burros ao ponto de, orgulhosamente, afirmarem que nunca leram um livro, como se isso fosse uma prova de entrada no reino dos céus.

Números velhos, talvez de 2004, mostravam que 1 em cada 10 portugueses não sabe ler ou escrever. São os analfabetos absolutos. Depois há os alfabetizados (teoricamente) que não lêem (90% dos portugueses) e os que lêem, mas não sabem interpretar, nem assimilar o que lêem.

Conheço criaturas que frequentaram, ou tiraram um curso superior, sem ter um único livro em casa, mesmo do que andaram a cursar.

Como tudo isto acontece?

Diz quem andou por lá, que há estupendas “sebentas” nas nossas faculdades.

Cabe aqui a história do petiz a quem o Raul Solnado perguntou se gostava de ler e que lhe respondeu: “Evito!”
       
          Os nossos livros estão empoeirados
           canecas de cerveja ensinam melhor,
           a cerveja dá-nos  prazer,
           os livros só aborrecimentos.

Fia-te nos que gostam de ler, desconfia quando alguém te diz que não tem tempo para ler, dizia o meu avô, um leitor compulsivo.

Os pobres não lêem porque não têm meios e os ricos porque não querem.

É mais fácil passar o tempo a olhar para a televisão. Outros há que desviam o dinheiro que têm para outras prioridades: comprar um carro topo-de-gama, comprar uma casa na praia, férias em Punta Cana ou qualquer outro lugar exótico.

Lê-se porque sim, porque não se pode deixar de ler. 

A leitura é um hábito que, no entanto, necessita de constante exercício porque quando se perde o hábito de ler, a necessidade de ler, o prazer de ler, corre-se o risco de não se recuperar.

Não é bem como andar de bicicleta...

François Truffautt adaptou ao cinema um livro de Ray Bradbury: Farenheit  451.

Filme e livro perturbantes.

Ler é pecado, quem pensa é um fora da lei.

 Não há só gaivotas em terra quando um homem se põe a pensar, cantava o José Afonso,  Mao Tsé Tung  dizia que ler demasiado é prejudicial, Júlio César, na peça de Shakespeare, desconfiava de Cássio porque era magro e porque lia muito.

Escreveu Paul Valery que os livros têm os mesmos inimigos que o homem: o fogo, a humidade, os animais, o tempo, e o seu próprio conteúdo.

William Wrigley, milionário da pastilha elástica, ao mobilar o seu sumptuoso apartamento, em Chicago, deu ordens à secretária: Meça-me aquelas prateleiras e compre-me os livros suficientes para mas encher. Arranje-me uma data de livros de um verde e um encarnado vivos e com uma batelada de letras douradas. Quero uma vista catita.

Livros para completar a mobília, dizia o Eça de Queiroz.

Jorge Luis Borges afirmou que o paraíso, se existe, tem a forma de uma biblioteca e o poeta francês Stéphane Mallarmé sabia que tudo no mundo existe para se transformar em livro.

Nota do Editor: o título é uma frase do Jorge Silva Melo


Legenda: pintura de Di Cavalcanti

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