quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

UNIDOS NO AMOR



Na Foz do Ribeiro, aldeia do concelho da Pampilhosa da Serra, todos os anos, por Julho, realiza-se a Festa da Aldeia. Foi lá que conheci a Isabel. Um encontro que me deixou encantada tal a sua simpatia e delicadeza. Estava com a irmã e os pais. Foi pouco o tempo que conversamos, mas o suficiente para não me esquecer desse dia.
Por coincidência, neste Natal, a minha comadre Tina, ofereceu-me o livro “Unidos no Amor Contra a Indiferença” (1) escrito por Isabel Barata e Manuel Matos, ambos deficientes, e que são os protagonistas desta linda história de amor, cumplicidade, ternura e também sofrimento.
Fiquei rendida até porque se tratava da Isabel que conhecera na Festa da Foz do Ribeiro. Deixo aqui alguns excertos desse livro, que em boa hora me foi oferecido, esperando que sejam suficientes para provocar a curiosidade da sua leitura:

“Não podemos negar que há obstáculos circunstanciais (a nível físico e mental ou sensorial) na vivência amorosa das pessoas com deficiência mas um obstáculo que pode ser torneado”.

“O sonho era um fim de tarde subindo a encosta com o perfume de laranjeira.
O coração dançava -em mim até ao longe depois e muito antes do castelo maduro, velho, agora amigo. Sinto as vozes em aguarela dentro do Peugeot 305 possivelmente cansado, sinto o branco casario abrindo-me portas ao sonho.
Então aquilo era Avis perfume de laranjeira e a verdade de um povo sobriamente solidário, simplicidade que me viram e não observaram que me adoptaram não como, mas porque eu era um dos seus, nem pior nem melhor, apenas tal como sou.”.

Sabe mal a palavra “deficiência”: sabe a uma espera dentro de um pântano, sabe a uma recusa vinda do fundo de todo o nosso ser encravada na garganta, mas não é tão desagradável ao paladar que conduza à renúncia. Na verdade, não é deficiência, mas sim a atitude das pessoas que se julgam “normais, que mais nos custa suportar, que, sobretudo quando não se conseguiu perceber ainda que a vida é um estádio para o crescimento individual de cada um, mais nos desmoraliza.”

“Viver sem paixão é viver sem estar vivo. Na realidade, e pelo menos nas sociedades ditas ocidentais, os valores mais importantes são os que estão realizados com o consumo e o mercantilismo, onde quem possui mais e melhores produtos – a maioria deles, perfeitamente inúteis – é que é feliz. Mas o que quer dizer «feliz» neste sentido? O que pode haver de felicidade, por exemplo, em eu ter adquirido aquele televisor último «grito» se ele nos traz gritos de dor? De que forma pode o Ter suplantar o Ser? Para que serve ter asas de bela penugem se não Sou pássaro? Esta concepção da vida não é razoável, nem aceitável. Pelo menos para mim não é, mil vezes não”.

“A minha paixão desde criança pelos automóveis levou-me a limitar muito o mundo dos meus brinquedos de infância, reduzindo-o à quase exclusividade dos «carrinhos», independentemente da qualidade, da cor e da forma. Recordo ainda hoje experiências marcantes, tanto positiva como negativamente, relacionadas com esses «diabinhos» que me sustentavam o amor por essas máquinas que contêm todas as contradições da humana condição e que pelo Homem criadas e produzidas, retratam o Ser Humano A minha paixão pelos automóveis levou-me a ter sentimentos que seriam impossíveis na criatura que recordo de mim desde muito cedo”.

Ficarei por aqui nas citações, mas acreditem que a verdade seria publicar muitas mais. Mas não terminarei sem citar as palavras que a Isabel e o Manuel escrevem na introdução:

“Amar é a única saída digna para esta vida e a melhor estadia nela.”
__________

(1) “Unidos no Amor Contra a Indiferença”, Isabel Barata e Manuel Matos”,
Quidnovi – Edição e Conteúdos S.A., Novembro 2009

1 comentário:

Miguel disse...

Comovente, Aidinha...

Se as Manas continuam nesse estilo, tenho de reforçar o meu stock de "Klinex"...!

Bjo