quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

MARÉ DE TODOS NÓS!


Vou sair à rua e irei contigo, com quem sempre tenho ido, mesmo que não vá mais ninguém.
Contigo também que, da última vez, sem saberes bem o que te empurrava porta fora, sem saberes bem que besta é esta, que nome lhe dar, essa mesmo que te vem sugando a vida, palmando a vontade, matando o desejo, comendo o pão e agora até a água te cobiça, foste à rua para te juntares. Para saberes afinal como é essa coisa de nos juntarmos a outras mulheres e a outros homens. Para saberes se o teu grito pode ou não ser o grito de outros.
Sairei à rua. Sairemos à rua.
Nos primeiros instantes seremos poucos. O Marquês será ainda rotunda quando olharmos os primeiros rostos. Meia dúzia de pessoas, ali de volta dum cartaz que estão a pintar, acenam a um carro que apitou enquanto gritam o que escreveram: «JAMAIS SEREMOS VENCIDOS!» Em volta não param de chegar. Vêm em grupos de dois, de três, muitos pela primeira vez como tu vieste também: sós. Uns com mochila às costas. Outros com os filhos. Tiveram de cortar o trânsito e agora ocupas a estrada, tu e as centenas que já não consegues contar. Já não cabemos nos passeios, grita alguém que não vês. Queres dar uma volta e subir a um banco ou a um poste, mas agora já não interessa, porque são muitos e vêm de todos os lados, porque ficas com medo de perder o grupo. «JAMAIS SEREMOS VENCIDOS». Mas entretanto vês outros com um cartaz a dizer «O POVO É QUEM MAIS ORDENA» e de novo perdes o medo. Por todo o lado há pontos de exclamação e desistes da investida, porque já não queres saber quantos são, contar às vezes é estúpido, pensas agora que os rostos estão mais perto, quase colados.
Rui Dinis texto tirado do blogue Que se Lixe a Troika

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