sexta-feira, 31 de maio de 2013

AS APOSTAS DO PS


Não se pode menosprezar o papel que a poesia de Manuel Alegre representou na luta contra a ditadura.

Não posso esquecer as noites de instrução nocturrna, no Regimento de Infantaria 5, nas Caldas da Raínha, em que os poemas da Praça da Canção, o meu velhinho exemplar da Ulisseia, eram lidos por um alferes que, conjuntamente com outros que tinham recusado continuar carreira militar na Academia, foram mobilizados e acabaram por fugir, uns  para Estocolmo, outros para Paris.

Uma poesia que ajudou a rasgar caminhos, a abrir janelas.

Mas há a faceta Manuel Alegre pós- 25 de Abril, dirigente e deputado do Partido Socialista.
O caso muda de figura.

De alegre se fez triste.

Há dias, num entrevista ao I declarou:

Temos o privilégio de ter a esquerda mais forte da Europa, mas a esquerda em Portugal não serve para nada.

Manuel Alegre foi comunista, esteve na guerra colonial, exilou-se em Argel, onde manteve laços de amizade com Fernando Piteira Santos.

Ainda em Argel, Manuel Alegre afastou-se do Partido, Fernando Piteira Santos, alvo de falsas calúnias, acabou por ser expulso
.
Álvaro Cunhal reconhecerá, mais tarde, que dos muitos erros cometidos pelo Partido, Fernando Piteira Santos foi um desses erros.

Alegre e Piteira Santos regressam, no mesmo dia, ao Portugal de Abril
.
Alegre filia-se no Partido Socialista, Fernando Piteira Santos, até à sua morte, manteve-se sempre fora de qualquer partido, mas nunca da militância política.
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A sua coerência com a ideologia marxista que sempre orientou impossibilitou-o de aceitar qualquer cargo que o afastasse do marxismo que o norteou desde jovem. Cabe aqui contar um episódio que revela a integridade e coerência política do Fernando. Alguém perguntou-lhe um dia: “por que é que não te filias no Partido Socialista?” Resposta: “Porque sou socialista!”. (1)

Mário Soares, o animal político, como gosta que lhe chamem, nunca foi socialista.

Os seus princípios são os da social-democracia e a invocação do socialismo foi, apenas, uma história para juntar pedras para o passeio da sua caminhada política
.
Na primeira oportunidade, Outubro de 1974, Soares mandou às urtigas as ideias e arrumou – para sempre! – o marxismo bem no fundo da gaveta.

José Saramago em Outubro de 1996:

Os partidos chamados socialistas deixaram de ser esquerda. É melhor assumir essa realidade. Não vale a pena continuar com uma ficção que é a de julgar que os partidos socialistas ainda são esquerda. Já não são esquerda, são centro. É o centro de que o tempo em que vivemos hoje necessita.

No decorrer dos tempos, a social-democracia acabará por ser devorada pelo neo-liberalismo.

Bem o sabemos!

É em todo este deslizar de palavras, que se chega ao ponto de, face ao momento trágico que o país vive, sabermos, que o Partido Socialista, quer a todo o custo eleições, apela a uma maioria absoluta, difícil de obter, mas, mais uma vez, já fizeram saber que deve dar-se absoluta prioridade ao CDS para uma coligação. Francisco Assis declarou-o em Fevereiro: é mais fácil uma aliança com a direita.

É nesta certeza que Paulo Portas, coligado ainda com o PSD, já anda a tratar da sua  sobrevivência.

A esquerda em Portugal não serve para nada.

Pano para muitas mangas.

A política de esquerda terá que ser uma acção constante de cidadãos, de partidos de esquerda e não uma intrincada partida de xadrez, de movida por privilegiados de casta, casa e sangue.

A direita nunca defendeu causas, apenas interesses.

 Dizem que é estúpida mas o que é facto é que tem sabido tirar partido da divisão – por que não cegueira? - da esquerda.

As esquerdas, sim esquerdas, têm sido impotentes para mudar o poder e colocá-lo ao serviço do povo.

Não há democracia sem cultura.

Mas em tempo de eleições, voltarão os políticos do arco governamental, contar a velha milonga de que o povo português sabe escolher.

Apenas dizer:

Perdoai-lhes, Senhor, que eles não sabem onde votam.

Hélas!



 (1)   Depoimento de Maria Branco em Fernando Piteira Santos Português, Cidadão do Século XX,  Campo das Letras, Porto Maio de 2003.

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