sexta-feira, 7 de novembro de 2014

PACÓVIOS EMBORCA CERVEJAS


Descobrimos uma coisa curiosa acerca da América. Era civilizada nas bordas: Nova Iorque, Chicago, LA, Washington. Mas afastavas-te uns oitenta quilómetros de qualquer uma destas cidades e entravas noutro mundo: No Nebraska, habituámo-nos a levar com «Olá, meninas» e mimos do género. Ignorávamos e ponto final. Ao mesmo tempo, os tipos que diziam isso deviam sentir-se ameaçados, talvez por as suas mulheres olharem para nós com um ar cativado. Éramos diferentes dos pacóvios emborca-cervejas que elas tinham de aturar todo o santo dia. A postura deles era claramente ofensiva, mas o que lhe estava subjacente era uma necessidade de defesa. Entrávamos num sítio só para tomar um café, comer uns ovos com fiambre ou umas panquecas e já íamos preparados para uma boa dose de bocas foleiras. Éramos apenas músicos mas, independentemente da nossa vontade, acabávamos por nos cruzar com dilemas e choques sociais muito interessantes. E muita insegurança. Supostamente, os americanos eram assertivos e seguros de si. Balelas: só fachada. Os homens, em particular, não percebiam bem o que se estava a passar. E aconteceu tudo muito depressa. Não me surpreende que alguns tipos se sentissem ultrapassados.


Keith Richards em Life. 

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