sábado, 8 de novembro de 2014

SÉTIMO SONETO


E olhei-te por mais tempo. Ainda hei-de olhar-te,
quando, acabados teus lugares, partires,
deixando no ar o espaço de fingires
a graça juvenil que eu devorei,

ano após ano, e em meu olhar tomei
de todos que te tinham sem te ver.
Ainda hei-de olhar-te, se, quando morrer,
puder voltar aqui e procurar-te

no espaço que deixaste. Mas não te amo,
não te amei nunca, e nunca te amarei.
Não se ama nunca a quem olhamos tanto.

Nem se deseja. Quanto por ti clamo,
neste silêncio em que de ti fiquei,
não é senão o libertar do encanto

que foste ao longe, à luz do mar aceso.
E à luz que te recorta é que estou preso.


Jorge de Sena

Legenda: pintura de Henri Matisse                                                                                      

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