Não
gosto de Fundações.
Em Junho de 2007, a Fundação José Saramago fez 18 anos.
Texto de Pilar del Río:
«As pessoas, quando nascem, desconhecem o seu destino;
as instituições, por outro lado, quando são criadas têm já traçados os seus
dias, modos e objetivos de tal forma que descumprir o programa planejado não é
fracassar – ato humano – senão é, ou pode ser, um delito. As instituições
nascem amparadas por um programa que devem cumprir, não nascem para ser
felizes, como as pessoas, embora na origem de algumas instituições o objetivo
da felicidade não esteja distante. Digamos que a Fundação José Saramago nasceu
para combater o esquecimento, a insensatez, o desprezo a que os seres humanos
estão condenados. Ou seja, no fundo nasceu para que o humaníssimo desejo de
felicidade possa ser cumpridos não só na vida pessoal daqueles que a geraram,
amamentaram, cuidaram e a levaram à maioridade que agora tem, os 18 anos que
acaba de completar, vividos dia a dia, tantas vezes contras as marés mais
inclementes lançadas por deuses que de mar – e de amar – sabem muito pouco.
Maioridade. Na tarde em que José Saramago aceitou a
idéia que lhe foi sugerida por Fernando Gómez Aguilera de criar uma fundação
que interpretasse a sua visão de mundo, ou seja, colocasse em marcha uma
Fundação que tivesse em conta os seus desejos de vida digna para os seus
semelhantes, naquela tarde, decisiva na vida de José Saramago, não se falou de
datas, porque há projetos que não têm data de validade. Dizer, naquela época,
18 anos, talvez significasse pouco, mas agora sabemos que, dia a dia, 18 anos é
muito, é um esforço invisível que penetra na terra como fertilizante, que está
presente e que atua, não se reforma, nem ofende ou humilha, simplesmente repete
as palavras de uma declaração de princípios que demonstra que o outro é
importante, está aqui, que é nossa incumbência, e nela seguiremos.
A Fundação nasceu para compartilhar culturas e abrir
espaços. Também para dizer, na hora certa e também fora de hora, que a
Declaração dos Direitos Humanos é uma constituição suprema da humanidade e que
enquanto houver pessoas sem teto, sem água, sem escola e sem cuidado médico,
viveremos fora da ordem que deveria governar o mundo; e que se permitimos que
haja guerras, que a Terra esteja repleta de violência e genocídios (ostensíveis
ou silenciosos), é porque aquilo que nos diferencia dos outros seres vivos, o
uso da razão e a potência da consciência, desapareceu do planeta. O que levaria
a retirar do dicionário e da vida o conceito de dignidade e colocar no seu
lugar o “salve-se quem puder” que cada dia está mais em voga.
A Fundação nasceu para contrariar esse modelo, também
para ser eco das melhores vozes que existem. Música, teatro, poesia encheram a
casa central da Fundação e se espalharam pelo mundo como mensagem de
convivência e reconhecimento, cumprindo assim o que está escrita na certidão de
nascimento da fundação. A Declaração Universal de Deveres Humanos, projeto
irrenunciável que obriga as pessoas, a sociedade e as instituições, tem um
passo lento mas permanente. “A vida”, dizem, “já é muito difícil para
assumirmos mais deveres”, e não é assim, pelo contrário, se todos estivéssemos
implicados com a defesa do meio ambiente, do trabalho que se realiza, do lugar
no mundo de todos e de cada um, a existência seria mais agradável para os mais
de oito mil milhões de seres humanos que integramos o arquipélago Terra.
Existem projetos para que a vida não seja este desespero, a Fundação conhece-os
e expande-os, essa é a sua obrigação, nisso militamos. A Fundação José
Saramago, que agora completa 18 anos, nasceu para ser, humildemente, uma
proposta que enaltece as pessoas, culturas, vozes, projetos e vontades que
lutam para superar a cegueira da razão. Seu âmbito de ação é o universo e o
coração dos seres humanos. A Fundação é um lugar e um espaço, tem obrigações
irrenunciáveis e um mestre. Não é pretensão chamar mestre a José Saramago se,
dia a dia, ao ler os seus livros, descobrimos novas generosidades, que é o
material de que está feita a Fundação e que define aqueles que a mantêm.
Passaram 18 anos desde o dia fundacional. Seguimos.»

4 comentários:
Será que a D. Pilar já pagou a dívida da Fundação à CM Lisboa (água,etc)?
É ima refinada caloteira e os « caloteirados » somos nos, contribuintes, que lhe sustentamos a imensa vaidade e perfídia!
Repito que não gosto de Fundações, escondem sempre qualquer coisa...
Estou quase certo que as ideias que José Saramago teve para a sua Fundação, estão longe do que está a ser feito. Assim de repente, ainda não concretizaram uma ideia que ele tinha no que respeita à Correspondência que manteve com os seus pares, bem como as imensas cartas que recebeu do seus leitores e a que foi respondendo. Considerava essa tarefa importantíssima.
Não conheço os contratos, mas se as dívidas existem terá de ser a Câmara a exigir esses pagamentos
Enviar um comentário