Há dias, apresentámos por aqui um velho recorte de um artigo, completamente cortado pela censura, que deveria ser publicado no Notícias da Amadora.
Evtuchenko
foi um triste episódio que nos
aconteceu, alguém que se intitulava poeta russo mas que se verificou ser um
vendedor-de-banha-da cobra. Enganou muita gente e muita dessa gente com os
conhecimentos e bases suficientes para que não caíssem na esparrela.
Eu
lera, na Seara Nova uma opinião sobre a sua Autobiografia, publicada no Rio de
Janeiro. Falei do entusiasmo ao meu pai, que pelos meios habituais e clandestinos, arranjou
o livro.
O
livro seria publicado em Portugal , pelas Publicações Dom Quixote, em 1967, com
o título Autobiografia Prematura .
Maio
de 1967, tempos de ditadura.
Por
aqueles tempos, o cinzentismo, a muralha de silêncio, por vezes, quebrava-se e
saltavam pedras para o charco.
Acontecia
um grito, uma festa.
Como
é que um escritor soviético desembarca no Portugal de Salazar?
Mercê
das muitas influências, nacionais e no estrangeiro, que Snu Abecassis,
fundadora e proprietária das “Publicações Dom Quixote”, mantinha.
Possivelmente
fez chegar a Salazar a mensagem que o homem, apesar de soviético, era
inofensivo. Terá dado garantias.
O
regime viu que talvez valesse a pena correr o risco. Para compor a cena, terá
imposto, aconselhado, que o escritor fosse a Fátima, ocorria o 50º aniversário
do milagre da fé, com a presença do papa Paulo VI. Também calhava bem uma
fotografia com um cartaz turístico, outras miudezas…
Lembro-me
do meu pai, com a sua costela marxista-leninista, ter torcido o nariz e acrescentado
que a autobiografia de alguém com apenas 30 anos, deveria ser apenas para gozar
o pagode.
Assim
era!
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