Viagem ao Fim da Noite
Céline
Tradução: Aníbal
Fernandes
Introdução:
Clara Ferreira Alves
Capa: José
Teófilo Duarte
Círculo de
Leitores, Lisboa, Junho de 1989
E o pior é pensar onde havemos de arranjar forças para no dia seguinte
continuar a fazer o que fizemos na véspera e ainda em tantos outros dias já
passados, onde encontraremos forças para tantas diligências imbecis, para mil e
um projectos que não conduzem a nada, para as tentativas de vencer uma
acabrunhante necessidade, tentativas que acabam sempre por abortar, e tudo isso
para nos capacitarmos uma vez mais de que o destino é imutável e que o melhor é
conformarmo-nos em ter de cair todas as noites da muralha abaixo, sob a
angústia desse dia seguinte, sempre mais instável e sórdido.
É talvez a idade que surge, traidora e nos ameaça com o pior. Já não existe
dentro de cada um de nós música suficiente para fazer dançar a vida, aí está.
Toda a juventude nos abandonou para ir morrer no fim do mundo, num silêncio de
verdade. Para onde ir agora, pergunto, depois de não possuirmos em nós a soma
bastante de delírio. A verdade é uma agonia sem fim. A verdade deste mundo é a
morte. Precisamos escolher: mentir ou morrer. E eu nunca consegui matar-me.
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