domingo, 23 de novembro de 2025

MÚSICA PELA MANHÃ


 

Lido no blogue as Palavras São Armas, de Cid Simões:

«Procurei poemas de louvor ao 25 de novembro, procurei manifestações populares de regozijo por essa efeméride que uns tantos, não tontos, procuram comemorar, procurei canções, melodias de júbilo que dessem um pouco de alegria a esse dia cinzento-escuro, procurei escritores que nos seus textos exaltassem a data nado-morta, tísica flor estéril e de fétido odor.

A criatividade repele a data invernosa, a sensibilidade não encontra nela o mínimo sentido e na história já lhe abriram a sepultura.

O 25Abril não é só uma efeméride, é muito, muito mais, o 25Abril é emoção banhada por lágrimas de júbilo, clímax da alegria na libertação de um povo.»

Numa entrevista ao Público de 20 de Novembro, Rodrigo de Sousa e Castro: “No 25 de Novembro, não estivemos à beira da guerra civil”
Para o coronel Rodrigo de Sousa e Castro, o 25 de Novembro não tem dignidade histórica para se comparar com o 25 de Abril. A intentona de 25 de Novembro de 1975, aliás, não mudou nada — o Pronunciamento de Tancos (que contribuiu para a queda do V Governo Provisório, de Vasco Gonçalves, e alterou a composição do Conselho de Revolução), em Setembro, sim.
Rodrigo de Sousa e Castro: “No 25 de Novembro, não estivemos à beira da guerra civil”
Por outro lado, sem o golpe spinolista de 11 de Março de 1975, “não teria havido PREC”. Em termos militares, os moderados eram muito mais fortes do que os extremistas de esquerda, por isso, nunca teria havido uma guerra civil no 25 de Novembro, diz o antigo porta-voz do Conselho da Revolução. O Documento dos Nove, fundador do suposto golpe de direita, era, afinal, “um programa de esquerda”. E a direita e a extrema-direita, que tentaram fazer valer as suas causas no 25 de Novembro, perderam em toda a linha. Por isso, diz o coronel, não faz sentido que queiram agora comemorar o 25 de Novembro. Logo eles, que não conseguiram cumprir nenhum objectivo.»

Durante a ditadura salazarista, o poeta António Gedeão num poema, a que Manuel Freire colocou música, disse-nos que eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida, que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança.

Hoje, imensos jovens não sabem o que foi o 25 de Abril, muitos mais ainda, não sabem o que foi o 25 de Novembro.

A história do que foi o 25 de Novembro de 1975 ainda não está feita. Como se diz no Aqui de Setembro de 1976: «houve um golpe. É o mínimo em que há unanimidade de certezas.»

Diz a historiadora Raquel Varela,  25 de Abril de 2011:

«Embora o encontro entre Álvaro Cunhal e Melo Antunes a 25 de Novembro esteja documentado, a historiadora acredita que o acordo tenha decorrido alguns dias antes do golpe que pôs fim à crise político-militar e terminou com a duplicidade de poderes nas Forças Armadas. Até porque os Nove poderiam adivinhar que as unidades militares afectas ao PCP não deixariam de responder a uma insurreição militar, como acontecera a 28 de Setembro de 1974 e 11 de Março de 1975».

José Saramago que, muito bem sabia do que estava a falar, disse: «Perdeu-se em Portugal muita coisa desde o 25 de Novembro. Perdeu-se sobre tudo a vergonha».

Adelino Gomes no Público de 26 de Novembro de 2000:

«Quem desencadeou o 25 de Novembro? Quem deu ordem aos páras para ocuparem quatro bases aéreas? Otelo traiu os seus homens ou evitou a guerra civil? O PCP de que lado(s) esteve? Até onde chegavam as ligações ao MDLP? Quantos grupos funcionavam dento do Grupo dos Nove? Qual foi a mais decisiva: a Região Militar do Norte (RMN) ou a Região Militar sw Lisboa (RML)?; o posto Avançado da Amadora, comandado pelo então tenente-coronel Ramalho Eanes, ou o Posto de Comando Principal, montado em Belém, e onde ficaram o Presidente Costa Gomes e o comandante da RML, e Conselheito da Revolução, Vasco Lourenço? Quantos 25 de Novembro houve naquele dia?

0 25 de Novembro existiu?

«A actual situação de anarquia militar foi, em certa medida, fruto das nossas ilusões: nós acreditámos que se podia instalar no Exército uma estrutura política democrática. Enganámo-nos.»

Melo Antunes em 24 de Novembro de 1975.

«Todos, incluindo os palermas e ignorantes, têm direito a comemorar o "seu" 25 de Novembro. Foi para isso que se fez o 25  de Abril."

Sousa e Castro,capitão de Abril, Novembro de 2024.

«As pessoas esquecem-se do clima político da altura e de ter sido um plenário de trabalhadores do DN que saneou os 24. E, muito antes disso, uma direcção afecta ao PS tinha saneado, por exemplo, a poetisa Natércia Freire, responsável pelo suplemento literário do jornal e respeitada à esquerda e à direita. E depois do 25 de Novembro foram saneados centenas de profissionais da imprensa, rádio e televisão. Por isso, é melhor não andarmos a atirar pedras, pois não?»

David Lopes Ramos

«Há algo clarinho como os factos: a consciência de que no dia 25 de Abril de 1974 tudo mudou. O que era ditadura tornou-se projecto de democracia, o que era silêncio podia ser dito, o que era monólito tornou-se diversidade. Iniciou-se um processo, que ainda hoje não terminou, porque as democracias estão sempre em construção, mas a partir dessa data tudo ficou diferente. Tentar apoucar esta data, fazendo do 25 de Novembro a data da liberdade, é um erro histórico e uma lamentável forma de tentar dividir em vez de unir.
Que o CDS, que sempre perseguiu essa revisão, o fizesse ainda se consegue compreender historicamente. Já se estranha que uma força tão nova como a Iniciativa Liberal consiga equiparar a celebração do 25 de Novembro ao derrube da ditadura, como fez de forma lamentável o seu líder, mas a IL adora guerras culturais. Agora que o PSD, com toda a sua responsabilidade política, tenha proporcionado este palco a André Ventura é algo que se compreende muito mal e que o irá perseguir durante anos.»


Do editorial de Davis Pontes no  Público de 26 de Novembro de 2024

«Nesses avanços e recuos, o 25 de Novembro foi crucial para travar não uma “ditadura comunista” – o PCP continuou no governo e algumas das mais importantes nacionalizações são posteriores a Novembro –, mas sim o risco de um confronto entre fracções militares que se podia transformar numa guerra civil. Aliás, quando se confronta os defensores da versão “diabólica” do 25 de Novembro com as provas da participação comunista num golpe, não passam da “entrevista” de Cunhal a Oriana Fallaci, que qualquer pessoa que conheça o pensamento de Cunhal, com o que se sabe da estratégia do PCP nesses meses e da posição da URSS, sabe que ele não poderia ter dado aquelas respostas. Acresce que, quando confrontada com os desmentidos à sua “entrevista”, Fallaci prometeu divulgar as gravações, o que nunca aconteceu. O PCP tem muitas culpas no cartório no PREC, mas esta não tem.

Na verdade, os derrotados do 25 de Novembro são, a 25, a ala esquerdista ligada ao Copcon, que por razões intrinsecamente militares e corporativas sai à rua, ficando isolada e derrotada. A 26, os derrotados são outros, todos aqueles que queriam ilegalizar o PCP.»

José Pacheco Pereira no Público 23 de Novembro de 2024.


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