Lido no blogue
as Palavras São Armas, de Cid Simões:
«Procurei poemas de louvor ao 25 de novembro,
procurei manifestações populares de regozijo por essa efeméride que uns tantos,
não tontos, procuram comemorar, procurei canções, melodias de júbilo que dessem
um pouco de alegria a esse dia cinzento-escuro, procurei escritores que nos
seus textos exaltassem a data nado-morta, tísica flor estéril e de fétido odor.
A criatividade repele a data invernosa, a
sensibilidade não encontra nela o mínimo sentido e na história já lhe abriram a
sepultura.
O 25Abril não é só uma efeméride, é muito, muito mais,
o 25Abril é emoção banhada por lágrimas de júbilo, clímax da alegria na
libertação de um povo.»
Numa entrevista
ao Público de 20 de Novembro, Rodrigo de Sousa e Castro: “No 25 de
Novembro, não estivemos à beira da guerra civil”
Para o coronel Rodrigo de Sousa e Castro, o 25 de Novembro não tem dignidade
histórica para se comparar com o 25 de Abril. A intentona de 25 de Novembro de
1975, aliás, não mudou nada — o Pronunciamento de Tancos (que contribuiu para a
queda do V Governo Provisório, de Vasco Gonçalves, e alterou a composição do
Conselho de Revolução), em Setembro, sim.
Rodrigo de Sousa e Castro: “No 25 de Novembro, não estivemos à beira da guerra
civil”
Por outro lado, sem o golpe spinolista de 11 de Março de 1975, “não teria
havido PREC”. Em termos militares, os moderados eram muito mais fortes do que
os extremistas de esquerda, por isso, nunca teria havido uma guerra civil no 25
de Novembro, diz o antigo porta-voz do Conselho da Revolução. O Documento dos
Nove, fundador do suposto golpe de direita, era, afinal, “um programa de
esquerda”. E a direita e a extrema-direita, que tentaram fazer valer as suas
causas no 25 de Novembro, perderam em toda a linha. Por isso, diz o coronel,
não faz sentido que queiram agora comemorar o 25 de Novembro. Logo eles, que
não conseguiram cumprir nenhum objectivo.»
Durante a
ditadura salazarista, o poeta António Gedeão num poema, a que Manuel Freire
colocou música, disse-nos que eles não sabem, nem sonham, que o sonho
comanda a vida, que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola
colorida entre as mãos de uma criança.
Hoje, imensos
jovens não sabem o que foi o 25 de Abril, muitos mais ainda, não sabem o que
foi o 25 de Novembro.
A história do
que foi o 25 de Novembro de 1975 ainda não está feita. Como se diz no Aqui
de Setembro de 1976: «houve um golpe. É o mínimo em que há unanimidade de
certezas.»
Diz a
historiadora Raquel Varela, 25 de Abril
de 2011:
«Embora o encontro entre Álvaro Cunhal e Melo Antunes
a 25 de Novembro esteja documentado, a historiadora acredita que o acordo tenha
decorrido alguns dias antes do golpe que pôs fim à crise político-militar e
terminou com a duplicidade de poderes nas Forças Armadas. Até porque os Nove
poderiam adivinhar que as unidades militares afectas ao PCP não deixariam de
responder a uma insurreição militar, como acontecera a 28 de Setembro de 1974 e
11 de Março de 1975».
José Saramago
que, muito bem sabia do que estava a falar, disse: «Perdeu-se em Portugal
muita coisa desde o 25 de Novembro. Perdeu-se sobre tudo a vergonha».
Adelino Gomes no
Público de 26 de Novembro de 2000:
«Quem desencadeou o 25 de Novembro? Quem deu ordem aos
páras para ocuparem quatro bases aéreas? Otelo traiu os seus homens ou evitou a
guerra civil? O PCP de que lado(s) esteve? Até onde chegavam as ligações ao
MDLP? Quantos grupos funcionavam dento do Grupo dos Nove? Qual foi a mais
decisiva: a Região Militar do Norte (RMN) ou a Região Militar sw Lisboa (RML)?;
o posto Avançado da Amadora, comandado pelo então tenente-coronel Ramalho
Eanes, ou o Posto de Comando Principal, montado em Belém, e onde ficaram o
Presidente Costa Gomes e o comandante da RML, e Conselheito da Revolução, Vasco
Lourenço? Quantos 25 de Novembro houve naquele dia?
0 25 de Novembro existiu?
«A actual situação de anarquia militar foi, em certa
medida, fruto das nossas ilusões: nós acreditámos que se podia instalar no
Exército uma estrutura política democrática. Enganámo-nos.»
Melo Antunes em 24 de Novembro de 1975.
«Todos, incluindo os palermas e ignorantes, têm
direito a comemorar o "seu" 25 de Novembro. Foi para isso que se fez
o 25 de Abril."
Sousa e Castro,capitão de Abril, Novembro de 2024.
«As pessoas esquecem-se do clima político da altura e
de ter sido um plenário de trabalhadores do DN que saneou os 24. E, muito antes
disso, uma direcção afecta ao PS tinha saneado, por exemplo, a poetisa Natércia
Freire, responsável pelo suplemento literário do jornal e respeitada à esquerda
e à direita. E depois do 25 de Novembro foram saneados centenas de
profissionais da imprensa, rádio e televisão. Por isso, é melhor não andarmos a
atirar pedras, pois não?»
David Lopes Ramos
«Há algo clarinho como os factos: a consciência de que no dia 25 de Abril de
1974 tudo mudou. O que era ditadura tornou-se projecto de democracia, o que era
silêncio podia ser dito, o que era monólito tornou-se diversidade. Iniciou-se
um processo, que ainda hoje não terminou, porque as democracias estão sempre em
construção, mas a partir dessa data tudo ficou diferente. Tentar apoucar esta
data, fazendo do 25 de Novembro a data da liberdade, é um erro histórico e uma
lamentável forma de tentar dividir em vez de unir.
Que o CDS, que sempre perseguiu essa revisão, o fizesse ainda se consegue
compreender historicamente. Já se estranha que uma força tão nova como a
Iniciativa Liberal consiga equiparar a celebração do 25 de Novembro ao derrube
da ditadura, como fez de forma lamentável o seu líder, mas a IL adora guerras
culturais. Agora que o PSD, com toda a sua responsabilidade política, tenha
proporcionado este palco a André Ventura é algo que se compreende muito mal e
que o irá perseguir durante anos.»
Do editorial de Davis Pontes no Público
de 26 de Novembro de 2024
«Nesses avanços e recuos, o 25 de Novembro foi crucial para travar não uma “ditadura comunista” – o PCP continuou no governo e algumas das mais importantes nacionalizações são posteriores a Novembro –, mas sim o risco de um confronto entre fracções militares que se podia transformar numa guerra civil. Aliás, quando se confronta os defensores da versão “diabólica” do 25 de Novembro com as provas da participação comunista num golpe, não passam da “entrevista” de Cunhal a Oriana Fallaci, que qualquer pessoa que conheça o pensamento de Cunhal, com o que se sabe da estratégia do PCP nesses meses e da posição da URSS, sabe que ele não poderia ter dado aquelas respostas. Acresce que, quando confrontada com os desmentidos à sua “entrevista”, Fallaci prometeu divulgar as gravações, o que nunca aconteceu. O PCP tem muitas culpas no cartório no PREC, mas esta não tem.
Na verdade, os derrotados do 25 de Novembro são, a 25,
a ala esquerdista ligada ao Copcon, que por razões intrinsecamente militares e
corporativas sai à rua, ficando isolada e derrotada. A 26, os derrotados são
outros, todos aqueles que queriam ilegalizar o PCP.»
José Pacheco
Pereira no Público 23 de Novembro de 2024.

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